terça-feira, julho 14, 2009

FEMENINAS Beatriz Escorcio Chacon

FEMENINAS

Beatriz Escorcio Chacon

Vontade de criar filho.Tudo fêmea.
Muitas fêmeas soltas de mim de avental.
Vontade de largar sapato alto
a teoria meia fina e carreira
para ser toda eu criadeira.
Meu quintal minhas crias
um varal cheio de calcinhas.
Um baú de anáguas engomadas
penteadeiras e pulseirinhas. Casa de meninas.
Nossa casa femenina com rendinhas no telhado
guardará franjas e sianinhas
uma cadela no portão . Tudo fêmea,
Bordados de rococó e margaridas rosinhas
pra enfeitar minhas crias .
Minhas crias sem pai nem avô
Terão nome de Maria
Maria Clara da Graça da Lua
Maria do Parto Sem Dor Maria Alegria
Maria Joana. Mariama.
Nossa casa violeta-carmim
toda aberta a todos os meninos
que se quiserem meninos.
Eles chegarão de início devagarinho
tomar chá de hortelã achar graça das xicrinhas...
Muitos fêmeos em nosso sofá de estrelinhas.
Vontade de criar filho. Tudo fêmea
de não levar porrada
nem medos pra casa
tudo fêmea de trocar respeito
sem vergonhas de usar laço .
Vontade de parir fêmea briguenta
sem remendo na costela
e soltar bando delas por Niterói Rio de Janeiro
andorinhas pra criação de companheiros.
Vontade de ser eu parideira
me arreganhar por inteiro na lua cheia
brotar fêmeas sonhadeiras
filhas naturais de poemas livres-comigo
arrebentando meu sonho meio corpete.

http://palavrarte.com/poemas_poetas/poempoe_poebrasI.htm#poeta2

Flávia Savary ( POEMAS SECRETOS I , II e III )

Flávia Savary

I

Que se distraiam teus pés
Em mil passeios .
E tuas mãos despenteiem águas
E tranças de heras .
Mas teus olhos , não .
Teus olhos estão
Sigilados em meus tesouros .

II

O segredo voa
Nas volutas
Do hálito do amado .
Estou presa
Da cadeia de seus lábios .
Mas ainda que se abrissem
Para dizer : “És livre”,
Escolheria ser triturada
Entre seus dentes.

III

Feito de madeiras nobres,
Recende a canela a incenso.
Sua cabeleira de cobre ,
Elmo de comandante ,
Cavaleiro andante ,
Errante guerreiro
Lacrado
Em secretas fontes .
apud http://palavrarte.com/poemas_poetas/poempoe_poebrasI.htm#poeta8

Cântico Negro José Régio






"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Domingo, 12 de Julho de 2009

FALECEU RODRIGO DE SOUZA LEÃO, MELHOR DIZENDO:ENCANTOU-SE ENTRE OS AZUIS


E assim ja dizia Carlos Pena Filho-poeta pernambucano:
DESMANTELO AZUL

Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas
depois vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas

Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas

E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço

E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul: azul.



Retirado do UMBIGO DO SONHO:http://umbigodosonho.blogspot.com/
"Interessado em artes plásticas – embora reconhecendo que seu lugar era a literatura – Rodrigo foi também autor de imagens como essa aí acima, a que chamou A insustentável leveza do elefante. Deixou e-books, contribuições em revistas literárias, livros de poemas – o mais novo é O caga-regras, de 2009 – além da novela Todos os cachorros são azuis, que está entre os 50 livros finalistas do concurso Prêmio Portugal Telecom 2009."DADE AMORIM

A arte ão o salvou, mas aliviou e encantou-o
Não conheci Rodrigo, mas parece que sim naquilo que ele falou pintou e cantou.
RODRIGO ENCANTOU-SE COMO DIRIA JOÃO GUIMARÃES ROSA "e vimos que entre nós nascia um sul vertiginosamente azul: azul."

segunda-feira, julho 13, 2009

Breve Lançamento em São Paulo


Obra original, sútil e com a delicadeza da pesquisa(da autora), um retrato familiar e dos próximos ao poeta pernambucano.
Entre aspas leiam:Vera Lúcia B de Oliveira Rego Lins
"As pessoas confundem seu modo de ser com a racionalidade explícita de sua obra"

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...