quinta-feira, outubro 29, 2009

Carlos Vaz Portugal



imagem Paulo Vasconcelos


O PRINCIPIO DA INCERTEZA, Heisenberg


alimentam-se dois pintores da tonalidade fraca de uma luz
sobre a imagem de dois frutos
o primeiro, mais a direita, desenha pêssegos
o segundo, mais afastado, limões

por não se entenderem, acendem o espaço
e vêem duas laranjas

desiludidos pelo engodo, descascam e comem
gomo a gomo o que afinal não pintaram

ARTE E CARNE NO DASEIN DA PALAVRA, Heideger


que de vermelho tem a palavra 'vermelho', tão somente a carne da palavra que dá a cor sugerida à mente
mas na verdade a palavra é daltónica e a razão que a acolhe fantasia no lume das ideias

se vermelho é sexo, sangue ou flor e se a palavra dá a tonalidade ao objecto
então seremos eternos pintores de vocábulos e pensamentos,
grafites de um mundo exterior

Galileu Galilei, O PESO

todos eram pejados de asas para experimentarem a leveza
mas criou-se o peso e os seres caíram eternamente sobre coisas
como aves num prato de cozinha

Biografia:

Carlos Vaz [Carlos Rodrigo da Silva Vaz] [n. Caminha,Portugal, a 21 de Junho de 1970] é um autor contemporâneo de Língua Portuguesa. Formou-se em Filosofia e Humanidades pela Universidade Católica de Braga e complementou com o mestrado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea sobre Maria Gabriela Llansol. Carlos Vaz é o autor da conhecida trilogia da experiência: A Casa de Al'isse, Seres de Rã e o romance premiado pela crítica Capricho 43. Para além destas obras, é também o autor do livro de poesia Laivo e do ensaio premiado Diários de um Real-Não-Existente, entre outros. Recebeu o Prémio Vergílio Ferreira [Gouveia] em 2005 pelo ensaio Diários de um Real-Não Existente e o Prémio Literário António Paulouro [Fundão] em 2006 pela obra Capricho 43. Apesar do autor se avaliar como um convicto llansoliano [Maria Gabriela Llansol] numa entrevista dada, a três de Agosto de 2005, à Agência Lusa, a originalidade do seu estilo literário vai mais além e é considerada por alguns críticos [ver Referências] como uma escrita onde as dicotomias encontradas, medo/coragem, sonho/razão, humanidade/monstruosidade, memória/esquecimento, criança/homem, crítica/sonho, branco/cores, entre outras, geram a morfose desejada do leitor numa entrega do seu corpo ao acolher a própria viagem do texto. Na verdade, as obras deste autor entrecruzam-se com textos ou ensaios científicos [encarnados pela figura de Isaac], com a pintura [Goya, Paula Rego, Helena Almeida, etc.], a literatura infanto-juvenil, etc. É essencialmente uma literatura de fascínio e de encanto que conquista o leitor mais exigente, logo desde a primeira página. Na verdade, a sua escrita persiste essencialmente na inovação estética e nas possibilidades da arte moderna, reclamando do leitor uma espécie de despojamento compreensivo, uma aceitação sem preconceitos. De facto, na observação da obra é crucial apelarmos ao papel do leitor, uma vez que não pode ser ignorado no processo de codificação de um texto literário, tendo em conta que o diálogo entre o intérprete e o texto é infindável. Ao invés do pacto de leitura, que habitualmente estamos dispostos a acolher, a leitura manifesta-se como uma reclamação e apelo a uma fusão de horizontes, já que a obra não se funda numa relação simples e semelhante entre aquele que escreve e aquele que lê, mas sobretudo aquele que escreve e lê ao mesmo tempo, através da união de um único corpo que é o texto.

carlosvaz@carlosvaz.pt
apud http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_europa.asp?ID=5543

Luisa Ribeiro


http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_europa.asp?ID=511

imagem Paulo Vasconcelos



Chorei-te os traços medievais engoli
veneno isolei-me numa arquelogia
de giz e não desenhei mais
um grego perfil
para beijar

não passas do papel
para a ogiva dos meus braços e morro
antes que me encerrem as palavras
numa fábrica de significados
e uma língua de água
me passe no rosto
alucinado

Te lloro los trazos medievales trago
veneno me aíslo en una arqueologia
de tiza y no dibujo más
quew un grego perfil
para bejar

no pasas del papel
a la ojiva de mis brazos y muero
antes de que me encierren las palabras
en una fábrica de signos
y una lengua de agua
me pase perdida por el rostro
alucinado

.
.

Nao me suicido ainda porque te quero
ver vestido para o verão quero
medir o músculo escuro que te sobra
à camisa e passar a língua
na linha cortante dos teus dentes
brancos. Eu quero

os teus dentes brancos
para mim. Por isso deixa-me
esperar este calor onde aparecerás
vestido ou despido
de linho brando

No me suicido todavía porque te quiero
ver vestido para el verano quiero
medir el músculo oscuro que te sobra
en la camisa y pasar la lengua
por la línea cortante de tus dientes
blancos. Yo quiero

tus dientes blancos
para mí. Por eso dèjame
esperar este calor donde aparecerás
vestido o desnudo
de lino blando

.

Não agites mais calor
ele respinga sangue perfumado
e os abetos murcham

não agites mais as rosas estão queimadas
junto ao soluço dos gatos e o sangue
espalha um alvoroço de galos

No agites más calor
èl respinga sangre perfumada
y los abetos se marchitan

no agites más las rosas están quemadas
junto al sollozo de los gatos y la sangre
esparce un alboroto de gallos

.
.

Nasci no segundo andar duma casa numa rua da cidade de Angra, onde não havia o perfume das laranjeiras, nem o cheiro a relva acabada de lascar. Uma casa com janelas viradas para outras janelas de outras casas iguais; casa de muitas tias, com Pai e Mãe e onde a única sombra me era dada pela magia dum irmão mais velho – irmão que me enchia os olhos de livros e medos.
E foi neste meu pulsar de criança que se espalhou a luz e que, num segredo nocturno, fui procurando as curvas das palavras que melhor desenhariam um fecundo percurso de lágrimas.
Aprendi o monólogo. E, sem nunca deixar a cidade onde nasci, limitei-me a passar por estes enigmáticos canais – veias da vida – exibindo sempre o desejo de transformar beliscões em carícias e de, ao fazê-lo, ir dando ao papel o verdadeiro encontro com a existência.
Não fiz mais do que me agarrar à lua, para espalhar o sangue e receber as pedras e brincar ao fogo e acumular as raízes e alcançar a infância dos filhos.
Sou aquilo que o tempo exige que eu registe: quando encontro a claridade procuro a sombra para descobrir o desassossego e quando encontro o desassossego, procuro a claridade para perseguir a sombra.
E neste vento, às vezes tempestade, passei quatro décadas sustentando a ilha num eterno passeio entre a terra que me g

XXIX Congresso de Poetas, em Budapeste

Paulo Vasconcelos

03:38 Budapeste .- O México e a Argentina Victoria's Romero Silvia Maria Inez Grivarello Ottado receberam hoje o prêmio do concurso de poesia em espanhol do Mundo XXIX Congresso de Poetas, em Budapeste.

Os prêmios foram apresentados na sessão de encerramento do congresso, que durou quatro dias e reuniu na capital Magyar cem poetas dos cinco continentes.

Droogenbroodt Germain, poeta belga que viveu na Espanha desde 1987 e secretário-geral do congresso, disse à"o mais importante nesses eventos é o contato com poetas locais, bem como atingir as pessoas e sentir o pulso do nosso povo".

O poeta lembrou que nesta edição, pela primeira vez na história que já participaram juntos escritores da China, Hong Kong e Taiwan, que irá sediar o próximo evento na primeira semana de dezembro de 2010.

Durante os quatro dias do congresso, foi premiado com o "Prémio Internacional de Poesia Parnasszus" Anis Koltz luxemburguesa, o eslovaco Milan Richter e os taiwanense Hsi Yu, que também foi premiado pela secção húngaro do PEN Clube.

No evento, realizado sob o tema "O futuro é um lugar na terra", envolvendo mais de cem poetas de 25 países.

O poeta espanhol Pedro Jesús de la Peña se cognominando "esperançoso" e de que o título, como "mídia", disse ele a esperança de que todos nós em situações de grave crise como esta, em que há um futuro para a humanidade ".

O evento publicou uma antologia, com o mesmo título da conferência organizada pela Academia Mundial de Artes e Cultura (WAAC), que é realizada anualmente.
By El Universal Caracas

terça-feira, outubro 27, 2009

ANTONIO MARIA ARAÚJO DE MORAIS



Nome:
Antônio Maria

Nascimento:
17/03/1921

Natural:
Recife - PE

Morte:
15/10/1964


Oração, de Antônio Maria
http://www.releituras.com/biofotos/antoniomaria.jpg

“Me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que comem cebola crua; me ensine tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore, a valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, frações, latim, geofísica e “Navio Negreiro”, de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano… carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá… agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: “comment allez vous”? de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: não saia esta noite e fique comigo, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja…”

Antônio Maria
P VASCONCELOS

"Às vezes, me sinto muito só. Sem ontem e sem amanhã. Não adianta que haja pessoas em volta de mim. Mesmo as mais queridas. Só se está só ou acompanhado, dentro de si mesmo. Estou muito só hoje. Duas ou três lembranças que me fizeram companhia, desde segunda-feira, eu já gastei. Não creio que, amanhã, aconteça alguma coisa de melhor."

(O diário de Antônio Maria)


Antônio Maria Araújo de Morais nasceu no Recife, em 17 de março de 1921, filho de Inocêncio Ferreira de Morais e Diva Araújo de Morais. Junto com os irmãos Rodolfo, Maria das Dores, Consuelo, e inúmeros primos, teve uma infância feliz, conforme se depreende de suas crônicas sobre os bons momentos desfrutados, nessa época, em sua terra natal. Nelas nos conta sobre a mãe carinhosa, os tempos de colégio, as aulas de música, as lições de francês, os mergulhos no rio e os "banhos salgados", as férias na usina Cachoeira Lisa, deixada por seu avô materno, Rodolfo Araújo.

"Íamos à missa das seis e meia, todos os domingos, no Colégio Marista. Quando comungávamos, tínhamos direito a várias xícaras de café, meio pão e manteiga Sabiá. Depois, vínhamos andando ao longo da rua Formosa para tomar conta do domingo, que nos oferecia os seguintes prazeres: Das 9 às 11, jogo de botão, em disputa de um campeonato que nunca terminou. Ao meio-dia, violento almoço de feijoada, com porco assado. Às duas, pegar o bonde de Avenida Malaquias e assistir a mais um encontro entre Náutico e Esporte, acontecimento da maior importância na plana existência do Recife. Depois, voltávamos cansados, íamos ao Politeama — se sobrasse dinheirinho — e dormíamos de consciência tranqüila, o longo sono dos que ainda não foram ao Vogue, ao vento do Capibaribe, fresco, sem umidade, macio, sem cheiro de Botafogo e Leblon."

Já mocinho, nos fala de suas aventuras: "Quando eu fiz quinze anos, ganhei um relógio de pulso e 5 mil réis. Olhei os ponteiros, vi que era hora de fazer uma besteira e entrei num botequim. Estávamos veraneando em Boa Viagem e, quando era de tardinha, o pessoal da minha idade vinha, de banho tomado e roupa limpa, inventar mentira sobre as moças — namoros, bolinagens veladas, agrados sinistros, tudo mentira, tudo imaginação. No dia dos meus anos, em vez de conversar essas coisas, compramos uma garrafa de Bagaceira Pingo de Uva e eu, sozinho, para ganhar uma aposta de dois mil réis, bebi toda. Anoiteceu, me deixaram na praia, a maré cresceu e me levou. Quem deu por mim foi um negro chamado Paulo, que tinha ido molhar os pés na franja da onda. Não sabia onde eu morava, nem o nome de minha mãe. Saiu, andando comigo no ombro, perguntando a todo mundo e, aos poucos, mais de cem pessoas acompanhavam o menino bêbedo, desacordado, que o mar ia levando. Quando acordei eram três da madrugada e minhas irmãs choravam ao pé da minha cama. Quando compreendi a gravidade daquele momento, comecei a chorar também — choramos em coro, cinco pessoas, até seis horas, sem dizer uma palavra, quando dormimos abraçados, com pecado e o sofrimento lavados pelas nossas lágrimas quentes."

Seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi o de apresentador de programas musicais na Rádio Clube Pernambuco. Vencido o primeiro degrau, no ano de 1940, mês de março, vem para o Rio a bordo do Ita "Almirante Jaceguai", "com quatro roupas novas e cinco contos no bolso", para ser locutor esportivo na Rádio Ipanema. A cidade tinha 1.764.411 habitantes. Quase todos cantavam que o passarinho do relógio está maluco, achavam que a Elvira Pagã era uma uva e fingiam não ver , no prédio moderninho do Ministério da Educação e Cultura (MEC) que Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda (pai do Chico) bancavam os antigos e se estapeavam, óculos quebrados, por causa de um xodó comum. Foi direto do Ita para o apartamento 1.005 do edifício Souza, na Cinelândia, onde passou a morar ao lado de Fernando Lobo e Abelardo Barbosa, o futuro rei dos auditórios Chacrinha, também pernambucanos. Também vivia por lá Dorival Caymmi e o pintor Augusto Rodrigues. Ficou pouco tempo por aqui — 10 meses — sem ser notado. Passou fome, foi humilhado e preso. Retornou ao Recife e se casou, em maio de 1944, com Maria Gonçalves Ferreira.

Logo muda-se para Fortaleza, tendo ido trabalhar na Rádio Clube do Ceará. Depois de um ano vai para a Bahia como diretor das Emissoras Associadas, tendo ali conhecido e feito amizade com Di Cavalcanti, Dorival Caymmi e Jorge Amado. Chegou a ser candidato a vereador naquela cidade.

Volta ao Rio de Janeiro, em 1947, já com dois filhos, Rita e Antônio Maria Filho, como diretor artístico da Rádio Tupi. Convocado por Assis Chateaubriand foi o primeiro diretor de produção da TV Tupi, inaugurada em 20 de janeiro de 1951, tendo trabalhado também como cronista de O Jornal. Durante mais de 15 anos escreveu crônicas diárias. Assinou, até 1955, as colunas "A noite é grande" e "O Jornal de Antônio Maria", nesse diário. No jornal O Globo manteve, por pouco tempo (início de 1959), a coluna "Mesa de Pista", tendo então se transferido para a Última Hora. Ali voltou a assinar "O Jornal de Antônio Maria" e "Romance Policial de Copacabana", esta última com crônicas e reportagens.

Graças ao dinheiro que o governo Getúlio Vargas despejou em troca de apoio político, no fim de 1952 a rádio Mayrink Veiga partiu para o ataque contra a Tupi e passou a contratar seus grandes nomes. Antônio Maria foi um dos primeiros contratados, por 50 mil cruzeiros, o mais alto salário do rádio no Brasil. Logo comprou seu primeiro Cadillac, símbolo de status entre os reis do rádio naquela época.

Na televisão era famoso o programa "Preto no Branco", de Oswaldo Sargentelli, onde sempre aparecia uma "pergunta de Antônio Maria, da produção do programa", geralmente muito embaraçosa. Fez, com Ary Barroso, durante todo o ano de 1957, um programa de sucesso: "Rio, Eu Gosto de Você", na TV Rio. Maria gostava de alfinetar os entrevistados. Um dia perguntou a Sandra Cavalcanti, candidata a deputada: "Quer dizer, dona Sandra, que a senhora é mal-amada?" A resposta de Sandra, dizem os espectadores da cena, assegurou-lhe a eleição. — Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz aquela música Ninguém me ama.

Com Paulo Soledade, assinou alguns shows na boate Casablanca e, em 1953, chegou a subir toda noite ao palco do Night and Day, no Edifício Serrador, localizado no centro do Rio, para apresentar "A Mulher é o Diabo", revista de Ary Barroso. Era um homem de 7 instrumentos, como se dizia.

Mesmo sendo uma pessoa extrovertida e de muitos amigos (e inimigos), Maria, como era chamado por eles, sempre teve a solidão dentro de si. Um exemplo está em sua crônica "Oração", escrita em 30-03-1954: "Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."

Aracy de Almeida foi uma de suas grandes amigas. Sabia tudo sobre Antônio Maria e, mesmo assim, como dizia brincando, continuava a gostar dele. Era desprovido de qualquer cerimônia: uma vez pediu a ela ajuda para colocar um supositório ("Já tentei todas as posições e não consegui nada."). Em outra oportunidade, ele e Vinícius de Morais, também seu grande amigo, tentavam cumprir um compromisso assumido: fazer um jingle para o lançamento de um... regulador feminino. Estavam com inúmeros outros trabalhos e foram pedir ajuda a Aracy. Ela, sem pensar muito, tomando emprestada a melodia de O orvalho vem caindo, de Noel, atacou de pronto: "— O ovário vem caindo...". Carlos Heitor Cony dizia que se o autor fosse mandado para cobrir a posse do papa, voltaria cardeal.

Cony conta: "Um dia, Maria me telefona: — Carlos Heitor, Carlos Heitor, você nunca me enganou." Disse então que, vindo de São Paulo, viu no avião uma mulher linda lendo o livro Matéria de Memórias, de Cony. Aproximou-se, se apresentou como o autor do livro, e a mulher, uma típica apaixonada, acreditou. Pintou para ela um quadro bastante dramático: era um desgraçado, que nunca tinha tido sucesso, que as mulheres o abandonavam. "— Mas, Maria..." era tudo o que o espantado Cony conseguia dizer. "— Fica tranqüilo, Cony, fica tranqüilo porque em seguida nós fomos pra cama. Ou melhor, você foi pra cama." E Cony, curioso: "— E ai?" "— E aí foi que aconteceu o problema" — gargalhava Maria. "— E ai você broxou, Cony, você broxou!"

Cronista, locutor esportivo, produtor de rádio, compositor de jingles, é dele essa pequena jóia literária, interpretada por Dircinha Batista, para o remédio Aurissedina:

"Se a criança acordou
Doooooorme, doooooorme filhinha
Tudo calmo ficou
Mamãe tem
Aurissedina"

Maria, não satisfeito, passou a ilustrar suas crônicas, onde sempre apareciam, num canto, a ave Ivanov e o gato Profumo. Disse, respondendo a um leitor que estranhou esse procedimento: "Entrei para o rol dos caricaturistas para iniciar um grande movimento nacional pela caricatura. Não a que eu faço. Mas a caricatura que você faz, que outros fazem... sempre sem vez. O Brasil é um país sem caricatura. Por isso, um país triste. A caricatura é mais importante que o retrato."

Autor de jingles comerciais em parceria com Geraldo Mendonça e com o Maestro Aldo Taranto, acabou compondo letra para um samba que falava numa "poltrona surrada / um cigarro apagado / só nós dois e mais nada..." Não fez sucesso, mas pouco depois compôs um frevo, que foi o primeiro de uma série de cinco, chamado Frevo nº. 1 do Recife, gravado pelo Trio de Ouro em agosto de 1951. Nesse mesmo ano, com Fernando Lobo, compõe o samba Querer Bem, gravado por Aracy de Almeida.

No ano seguinte duas gravações na voz de Nora Ney se transformam em grande sucesso na programação das rádios brasileiras: Menino Grande e Ninguém me ama. Essas músicas são, até hoje, lembradas por diversas gerações, sempre com muita emoção. Compôs, também, outros grandes sucessos, dentre os quais podemos destacar Valsa de uma cidade e Canção da Volta, com Ismael Neto; Manhã de Carnaval e Samba do Orfeu, com Luís Bonfá, em 1959; O Amor e a Rosa e As Suas mãos, com Pernambuco, e Se eu Morresse Amanhã. De sua grande produção musical, apenas 62 foram gravadas. Eram, em sua maioria, tristes, de dor-de-cotovelo. Além dos acima citados, foram seus parceiros, entre outros: Fernando Lobo, Moacyr Silva, Vinicius de Moraes, Zé da Zilda e Reynaldo Dias Leme. Alguns dos intérpretes de suas músicas: Nora Ney, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Lúcio Alves, Doris Monteiro, Jamelão, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Agostinho dos Santos, Dircinha Batista, Luiz Bandeira e Claudionor Germano, além de Nat King Cole, que gravou Ninguém me ama e Tuas mãos.

Convidado, no começo de outubro de 1964, pelo compositor Miguel Gustavo, para ser seu parceiro na produção de um programa de televisão, respondeu com um bilhete nos seguintes termos: "Nome - Antônio, simples. Telefone: 36-1255, mas só até o dia 14, porque saio do ar..."

Antonio Maria, cardiopata desde a infância, faleceu fulminado por um enfarte do miocárdio na madrugada de 15 de outubro de 1964, em Copacabana, quando se dirigia para o Le Rond Point; mesmo tendo sido socorrido por amigos que o viram cair e que se encontravam na boate O Cangaceiro, em frente daquele restaurante. Bom de copo e de garfo, Maria se auto-intitulava "cardisplicente", uma mistura de cardíaco com displicente. Profissão: Esperança.

Transcrevemos abaixo a "Oração para Antônio Maria, pecador e mártir", escrita por Vinícius de Moraes em julho de 1968:

"Nós saíamos os dois do "Vogue", e depois de deixar Aracy no táxi que a levava ao seu subúrbio, seguíamos de carro até o Leblon, às vezes acompanhando a matilha madrugadora de vira-latas a transitar entre as calçadas do Jardim de Alá; havia sempre um que parava para fazer pipi, o que provocava o reflexo dos outros, e era aquela mijação feliz — que eu nunca vi raça de bicho mais contente da vida que vira-lata carioca ao nascer do Sol. Parecia, mal comparando, uma fileira de lingüiças semoventes, uma a cheirar o rabinho da outra.

Você ria uma grande gargalhada, contente com o seu Cadillac velho, com a explosão da aurora no mar, com os vira-latas transeuntes e com seu novo amigo e poeta. E depois de passar pela casa de Caymmi, para ver se o baiano ainda ralentava a noite, acabávamos nos Pescadores enfrentando um filé com fritas, ou uns ovos com presunto — os melhores de Copacabana, porque eram feitos para a nossa grande fome. O pão era fresco e a cerveja bem gelada. Depois você me deixava em casa, eu dilacerado de saudades de tudo: de você, das conversas na boate amiga, onde dois barões, von Schiller e von Stuckart, disputavam em carinho e gentileza. E sobretudo da mulher amada ainda não tida. Você, maciste ao volante, cantava a marcha que tinha feito para a minha infinita dor-de-corno:

É muito tarde pra esperar por ela
Ela não vem ouvir a tua voz
Esquece, amigo porque a vida é bela
A noite é grande e cabe todos nós...

Um elo forte e viril se fizera entre nossas almas, e nós passamos a ser imprescindíveis um ao outro. A noite — que esperança! — não era grande, era pequena para a nossa gula de vivê-la em toda a sua plenitude. Tudo passava tão rápido, nós olhávamos as moças dançando, Aracy cantava, surgia a figura amiga de Fernando Ferreira, de repente a porta da boate deixava filtrar a luz da manhã. "Ele", como dizia Américo Marques da Costa, tinha despontado. Mais um dia, mais uma morte. Muitas mortes morremos nós, meu Maria, antes que a sua acontecesse para deixar-me mais só vivendo as minhas. Tantos já se foram, atraídos pela Grande Noite... Evaldo Rui, Bicudo, Stuckart, Waldemarzinho, Louis Cole, Alzirinha, Mauro, Dolores, Ozorinho, Ismael Filho, Ari... Mas em compensação ai estão Paulinho Soledade e Carlinhos Niemeyer, respirando por um fole só, mas cada dia fazendo mais viração; Verinha, esse amor de Verinha, uma graça total, a nossa boa Araça, rainha das vagotônicas, e o querido Rinaldinho, que neste particular nada lhe fica a dever, ele e sua gargalhada que o rádio silenciou. E de vez em quando ainda acontece uma grávida, em geral moça do Norte. Porque a verdade, meu Maria, é que depois da pílula, moça carioca quase não muda mais de silhueta. Às vezes eu fico pensando. Não sei se você gostaria de estar vivo agora, meu Maria, depois de 1964. Tudo piorou muito, o governo, o meu caráter, a música. Agora só se faz música para Festival e perdeu-se aquela criatividade boa e gratuita da década de 50. Todo mundo faz música com objetivo: comprar apartamento, ter um carrinho, ganhar popularidade, dobrar o cachê, vencer Festival, namorar as moças, bater papo furado. Isso não quer dizer que os caras não sejam ótimos compositores: eles o são. Mas tudo é feito num espírito muito toma-lá-da-cá, cada-um-por-si-e-Deus-por-todos. Assim, a meu ver, perde a graça. Aliás, não é culpa deles. Em absoluto. É o "esquema", como está em moda falar. Eles têm que estar na onda, senão não tem apartamento, não tem carro, não tem cachê, não tem Festival, o papo micha e as moças não dão. Ficam, por assim dizer, marginalizados, e aí nem o "Globo" nem a "Record" querem nada com os infelizes. Em resumo, meu Maria, não se perdeu a música; perdeu-se a sua dignidade.

Mas por um motivo eu sei que você gostaria de estar vivo: as moças. Elas estão, meu Maria, cada dia mais lindas e esportivas, havendo mesmo uns espécimes de se espetar na parede com alfinete. E acho que você iria gostar do "Antonio's", um restaurante novo do Leblon onde todo mundo vai, e tem de certo modo o espírito do velho "Maxim's" dos anos 51/53.

De vivo mesmo, meu bom Maria, há Oscar Niemeyer e Di Cavalcanti, certamente os dois maiores homens do atual Brasil. Di está, nos seus 70, a coisa mais jovem, trêfega, inteligente e lírica do mundo, pintando cada dia mais lindo e batendo o melhor papo da República. E Oscar então, desse nem se fala. Elevou-se muito acima de todos, pelo gênio, pela consciência política, pela compreensão humana, pela simplicidade autêntica.

E há os estudantes. Estão maravilhosos, e dando lição de cultura aos pais e professores. Saem à rua como um fogo que se alastra, fazendo comícios relâmpagos, topando as paradas com a polícia e conseguindo unir todas as camadas da população, com exceção dos milicos. Outro dia nós saímos em passeata cívica, e éramos 100.000 na Avenida Rio Branco: estudantes, intelectuais, clero, donas de casa, protegidos por um extraordinário esquema de segurança bolado pelos próprios garotos. Uma beleza. Se alguma coisa de bom tem que sair deste país, vai ser à base do novo movimento estudantil. E, naturalmente, Chico Buarque de Holanda."

Livros:

- O Jornal de Antônio Maria - Editora Saga/1968 - seleção de Ivan Lessa.

- Com vocês, Antônio Maria - Editora Paz e Terra/1994 - seleção de
Alexandra Bertola.

- Benditas sejam as moças: As crônicas de Antônio Maria - Editora
Civilização Brasileira/2002 - organização Joaquim Ferreira dos Santos.

- O diário de Antônio Maria - Editora Civilização Brasileira/2002 - Joaquim
Ferreira dos Santos (apresentação).

Sobre o autor:

- Antônio Maria: noites de Copacabana - Editora Relume-Dumará/1996 - Joaquim Ferreira dos Santos - Coleção "Perfis do Rio".

Teatro:

- Brasileiro, Profissão: Esperança, musical com Clara Nunes e Paulo Gracindo, textos de Paulo Fontes e direção de Bibi Ferreira.

- A noite é uma criança; musical que tem o roteiro e a atuação de Marcos França, acompanhado de Claudia Ventura e Alexandre Dantas Teatro Maria Clara Machado (Planetário), Rio de Janeiro - 2004.

Discos:

- Brasileiro, Profissão: Esperança, gravação ao vivo do musical de mesmo nome, com Paulo Gracindo e Clara Nunes, I. E. M. Fábricas Odeon S.A., 1974.

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OLINDA ..... CARLOS PENA FILHO- PE

by Moema Cavalcanti
by Moema Cavalcanti
colaboração de postagem Sergio Gusmão



Olinda
Carlos Pena Filho
(1929/1960)

De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.

As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente.

Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

domingo, outubro 25, 2009

JACINTO CORDERO ESPINOSA





Nacido en Cuenca en 1926. Ha publicado “El canto del destino” (1948), “Poema para el Hijo del Hombre” (1954), “Despojamiento” (1956), “Volviendo a los Padres” (1956), “Tres poetas ecuatorianos” (1975), “La llamada” (1986), “Alambrada” (1989), “Contra el solitario roquedal” (1992), “Juan Pablo. Elegía” (2004), “Los enigmas” (2005). Su obra consta en antologías nacionales y extranjeras.



P Vasconcelos

PAZ

Paz que pernaneces
sobre los rebaños
y los campos dormidos,
tu aire azul se levanta
del surco que abre el labrador.
Espigas y semillas
caen del borde de tus manos
ardientes como colinas.

La tierra se desliza
por los dedos abiertos de los muertos
y reverdece en las llanuras.

Sube en tu silencio
la savia hacia las hojas nuevas,
crece el árbol
hacia la hoja última
plateada por el día.

La sangre busca para nacer
en una onda hermosa
el corazón futuro.

Cava el amor
el rio sagrado de la vida.

Todo viaja hacia tu nombre,
dulce sílaba de luz,
dorado como el pan,
como el círculo de una lámpara.

Todo halla tu forma
como el agua en un vaso:
el viento que sonríe en la hierba
y se aquieta em el rostro
del para siempre dormido,
el vuelo de ave
y el silencio del astro.

PVasconcelos

NO SOY SINO UM HOMBRE

No soy sino un hombre entre miles de hombres,
si tuviera mañana que morir
nada y todo desapareceria conmigo.

!Oh! corazón, isla palpitante de luz
rodeada por la niebla del tiempo,
hoja única abrillantada por la muerte,
la noche desconocida y milenaria
te ciñe como al borde de una lámpara.

Un día la tierra y la hierba
te cubrirán para siempre como a una semilla.

¿Alguien contestará a tu latido,
tu pregunta inmortal?

!Alma mía irrepetible y sola!
Ahora oigo tu rumor,
como la noche,
como el tiempo y como el mar,
descender por mi cuerpo,
tu tíbio coágulo de música
mueve mis manos que escriben en el papel
!Oh sagrada poesía!
Conduce mis pies que regresan
de la llanuras en el crepúsculo,
que han pisado la tierra pegajosa y tenaz
donde duermen los que fueron mis padres.

Toco la cabeza de un niño,
la forma de un seno
o un vaso
y reflejan su imagen solitária
en las pupilas ciegas que llevo en mis manos.

Pan de mi mesa pobre
que apenas pesa en el paladar
y cae al corazón
con su aroma de siglos.

Amor que endureciste mi miembro
para vencer a la muerte,
de tus entrañas surge la cabeza de un niño.

!Alegría qué lejanas tus Banderas,
como un fuego en la montaña!
http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/ecuador/jacinto_cordero.html
by Antonio Miranda

quinta-feira, outubro 22, 2009

JUAN POMPONIO Argentina

Paulo Vasconcelos
JUAN POMPONIO

Nacido en Berazategui (Buenos Aires) Argentina, el 23 de septiembre de 1966

Declarado “ciudadano ilustre” por el Honorable Consejo Deliberante de Berazategui en 1997, Juan Pomponio obtuvo numerosos premios y distinciones en concursos de poesía y cuentos, entre los que se destacan el 1º Premio en el Certamen Literario de Poesía “Almafuerte 1997”, organizado por la Radio Universidad Popular de La Boca; el 2º Premio de Poesía en idioma español del Segundo Certamen Nacional de Poesía y Cuentos: Premio “C.O.M.I.T.E.S 1999”, por su poema “Dureza inmigrante”; y el 2º Premio en el III Concurso Nacional de Poesía “Club de Letras 96 desde el Café Tortoni”, por su poema “Bronce de insomnio”.

Fue también finalista de concursos internacionales, entre los que vale mencionar el X Concurso Internacional de Cuento Corto “Querido Borges 1997”, organizado por el “Liceo Internacional de Cultura” de La ciudad de Hollywood, California, EEUU. El título su cuento es “Una Lágrima Dorada de Cristal”.
En el año 2003, obtuvo una Divisa Honorífica Nacional por su libro “SALVAJE”, otorgada por el Instituto Literario “Horacio Rega Molina”, en la ciudad de La Plata, Buenos Aires.
Finalista del IV Certamen Internacional de Relatos “Ron y Miel” (2005),organizado por la Asociación Cultural Habana de Granada, España.
Sítio do autor: www.juanpomponio.com.ar

GIRA POÉTICA DE JUAN POMPONIO POR AMÉRICA DEL SUR

O poeta argentino JUAN POMPONIO sale en una gira por varios países por tiempo indeterminado, Sale el 8 de febrero hacia Santiago de Chile, donde será decepcionado por Luis Ariasmanzo. El 15 lo esperan en Cuzco (Instituto Nacional de Cultura) para un recital con Feliciano Mejìa, y sigue… A medida que avance en su gira iremos dando noticia…
Visiten el blog del poeta: http://www.laaventuradejuanpomponio.blogspot.com/
Paulo Vasconcelos
Tarde en Itaparica

Sentado frente al mar
la inmensidad.
El gris del cielo acentúa
el verde supremo.
Llegan olas
eternas
canciones
que siempre suceden
misteriosas
visiones.


Paulo Vasconcelos
Salvador da Baía de toda la vida

Nunca me iré de tu lado
Baía de todos los nombres
Baía de todos los días.
Es la eternidad que llega
dejando letras en tus calles.
Baía de todas las noches
Baía de todos los negros.
Mi alma enamorada
tu magia de siempre
Baía de todas las tardes
Baía de todas las negras.
Caminar por tus venas es así
Un simple acto de vida
Baía de todos los ritmos
Baía de todas las letras.
Admirar al sol, admirar la luna
Baía de toda la vida
donde queda mi sangre
eterna vagabunda.

Paulo Vasconcelos

LA CASA DE LAS PALMERAS

La casa de las palmeras flota
sobre tus ojos:
tiene la esencia del mismo amor.
Como las tardes de aquella vida,
como los crepúsculos de aquella historia.
El lugar donde crece tu imaginación
tiene el sentido de la vida
y mi vida viene de tu sangre
y de ella crezco hacia el universo
y del universo regreso con estrellas.

08/ 06 / 2000

Paulo Vasconcelos
INSPIRADO EN ODYSSEUS ELYTIS

El rocío de las estrellas
moja la tierra
brota el aroma de las naranjas
nace el polen de la noche
donde abejas dormidas
buscan a tientas
el sagrado néctar del sol.
La miel del verano
renace sobre los tilos
de raíces sedientas
bebiendo la gloria del humus
de la tierra.

23 de junio de 2006

Paulo Vasconcelos

DESPUES DE LEER A FERNANDO PESSOA

¡No cesará! ¡No cesará!
No cesará el grito del poeta
que camina la vida
con su voz al hombro
de todas las realidades.
¡Nunca terminará! ¡Nunca terminará!
Nunca terminará su canto
porque es un traspaso
de voces antiguas y compartidas.
¡No finalizará! ¡No finalizará!
No finalizará su letra
porque la tinta inagotable
trazará surcos, trazará surcos
en una mezcla de tierra
con metáforas enloquecidas
arrancadas desde la sangre,
eterno reguero
de canciones inmutables.

8 de junio de 2006
Desenhos digitais Paulo A C Vasconcelos
Poemas e tetos retirados de Antonio Miranda http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/argentina/juan_ponponio.html

ALEX POLARI DE ALVERGA PB

Paulo Vasconcelos



(João Pessoa - PB, 1951). Teve publicado seu primeiro livro de poesia, Inventário de Cicatrizes, em 1978. Na época, estava preso; por sua militância política contra o regime militar brasileiro, permaneceu na prisão entre 1971 e 1980. Seu segundo livro, Camarim de Prisioneiro, saiu em 1980. No início dos anos de 1980 passou a fazer parte da comunidade esotérica Santo Daime, no Amazonas. Na poesia de Alex Polari, de tendência contemporânea, se manifestam de maneira forte e direta experiências de cárcere, de tortura. Para o crítico Carlos Henrique de Escobar, ?Alex político e Alex poeta, como alguns dos seus muitos companheiros em diferentes prisões do país, alguns já libertados, outros exilados, poderão significar toda uma postura e uma produção artística (na poesia, na pintura e no romance) que rompe com os padrões estéreis e reacionários de até então."
Fonte: www.itaucultural.org.br/

ZOOLÓGICO HUMANO

o que somos
é algo distante
do que fomos

ou pensamos ser.
Veja o mundo:
ele se move
sem nossa interferência
veja a vida:
ela prossegue
sem nossa licença
veja sua amiga:
ela se comove
por outros corpos
que não o seu.

Somos simplesmente
o que é mais fácil ser:
lembrança
sentimento fóssil
referência ética
apenas um belo ornamento
para a consciência dos outros.

A quem interessar possa:
Estamos abertos à visitação pública
sábados e domingos
das 8 às 17 horas.

Favor não jogar amendoim.


Extraídos de INVENTÁRIO DE CICATRIZES. 3 ed. São Paulo: Teatro Ruth Escobar; Comitê Brasileiro pela Anistia, 1978. 58 p.
retirado de http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/alex_polari_de_alverga.html

terça-feira, outubro 20, 2009

Rainer Maria Rilke

paulo vasconcelos








Rainer Maria Rilke nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.

"Poeta fundamental, Rilke é a voz de uma época em transição. Talvez seja a última voz do seu tempo, aquela que anunciou o "fim dos tempos modernos", como quer Romano Guardini, e ao mesmo tempo a primeira voz e o primeiro poeta dessa nova era que estamos começando a viver."

(Paulo Plínio Abreu - parte de uma introdução
sobre a obra de Rilke publicado no jornal paraense:
"Folha do Norte" entre os anos de 1946 e 1948)

Carta a um jovem poeta (excerto)
Elegias de Duíno (excerto)
.O torso arcaico de Apolo

Não conhecemos sua cabeça inaudita
Onde as pupilas amadureciam. Mas
Seu torso brilha ainda como um candelabro
No qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado

Detém-se e brilha. Do contrário não poderia
Seu mamilo cegar-te e nem à leve curva
Dos rins poderia chegar um sorriso
Até aquele centro, donde o sexo pendia.

De outro modo erger-se-ia esta pedra breve e mutilada
Sob a queda translúcida dos ombros.
E não tremeria assim, como pele selvagem.

E nem explodiria para além de todas as fronteiras
Tal como uma estrela. Pois nela não há lugar
Que não te mire: precisas mudar de vida.

(Tradução: Paulo Quintela)




redesenhando paulo vasconcelos

- Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.
(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

redesenhando paulo vasconcelos

- Hora Grave

Quem agora chora em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.


Quem agora ri em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.
(Tradução: Paulo Plínio Abreu)
redesenhando paulo vasconcelos

Morgue

Estão prontos, ali, como a esperar
que um gesto só, ainda que tardio,
possa reconciliar com tanto frio
os corpos e um ao outro harmonizar;

como se algo faltasse para o fim.
Que nome no seu bolso já vazio
há por achar? Alguém procura, enfim,
enxugar dos seus lábios o fastio:

em vão; eles só ficam mais polidos.
A barba está mais dura, todavia
ficou mais limpa ao toque do vigia,

para não repugnar o circunstante.
Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,
olham só para dentro, doravante.

(Tradução: Augusto de Campos)

redesenhando paulo vasconcelos

A Pantera
No Jardin des Plantes, Paris

De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

(Tradução: Augusto de Campos)

redesenhando paulo vasconcelos

A Gazela
Gazella Dorcas

Mágico ser: onde encontrar quem colha
duas palavras numa rima igual
a essa que pulsa em ti como um sinal?
De tua fronte se erguem lira e folha

e tudo o que és se move em similar
canto de amor cujas palavras, quais
pétalas, vão caindo sobre o olhar
de quem fechou os olhos, sem ler mais,

para te ver: no alerta dos sentidos,
em cada perna os saltos reprimidos
sem disparar, enquanto só a fronte

a prumo, prestes, pára: assim, na fonte,
a banhista que um frêmito assustasse:
a chispa de água no voltear da face.

(Tradução: Augusto de Campos)

redesenhando paulo vasconcelos

São Sebastião

Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.

E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.

Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.

(Tradução: Augusto de Campos)



redesenhando paulo vasconcelos

O Anjo

Com um mover da fronte ele descarta
tudo o que obriga, tudo o que coarta,
pois em seu coração, quando ela o adentra,
a eterna Vinda os círculos concentra.

O céu com muitas formas Ihe aparece
e cada qual demanda: vem, conhece -.
Não dês às suas mãos ligeiras nem
um só fardo; pois ele, à noite, vem

à tua casa conferir teu peso,
cheio de ira, e com a mão mais dura,
como se fosses sua criatura,
te arranca do teu molde com desprezo.

(Tradução: Augusto de Campos)

redesenhando paulo vasconcelos


Fonte Romana
Borghese

Duas velhas bacias sobrepondo
suas bordas de mármore redondo.
Do alto a água fluindo, devagar,
sobre a água, mais em baixo, a esperar,

muda, ao murmúrio, em diálogo secreto,
como que só no côncavo da mão,
entremostrando um singular objeto:
o céu, atrás da verde escuridão;

ela mesma a escorrer na bela pia,
em círculos e círculos, constante-
mente, impassível e sem nostalgia,

descendo pelo musgo circundante
ao espelho da última bacia
que faz sorrir, fechando a travessia.

(Tradução: Augusto de Campos)


redesenhando paulo vasconcelos
Dançarina Espanhola

Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.

E logo ela é só flama, inteiramente.

Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.

Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.

(Tradução: Augusto de Campos)


redesenhando paulo vasconcelos

O Cego

Ele caminha e interrompe a cidade,
que não existe em sua cela escura,
como uma escura rachadura
numa taça atravessa a claridade.

Sombras das coisas, como numa folha,
nele se riscam sem que ele as acolha:
só sensações de tato, como sondas,
captam o mundo em diminutas ondas:

serenidade; resistência -
como se à espera de escolher alguém, atento,
ele soergue, quase em reverência,
a mão, como num casamento.

(Tradução: Augusto de Campos)


redesenhando paulo vasconcelos
Exercícios ao Piano

O calor cola. A tarde arde e arqueja.
Ela arfa, sem querer, nas leves vestes
e num étude enérgico despeja
a impaciência por algo que está prestes

a acontecer: hoje, amanhã, quem sabe
agora mesmo, oculto, do seu lado;
da janela, onde um mundo inteiro cabe,
ela percebe o parque arrebicado.

Desiste, enfim, o olhar distante; cruza
as mãos; desejaria um livro; sente
o aroma dos jasmins, mas o recusa
num gesto brusco. Acha que á faz doente.

(Tradução: Augusto de Campos)
redesenhando paulo vasconcelos
O Solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo
do coração e eu estarei à borda:
onde não há mais nada, ainda acorda
o indizível, a dor, de novo o mundo.

Ainda uma coisa, só, no imenso mar
das coisas, e uma luz depois do escuro,
um rosto extremo do desejo obscuro
exilado em um nunca-apaziguar,

ainda um rosto de pedra, que só sente
a gravidade interna, de tão denso:
as distâncias que o extinguem lentamente
tornam seu júbilo ainda mais intenso.

(Tradução: Augusto de Campos)



O Fruto

Subia, algo subia, ali, do chão,
quieto, no caule calmo, algo subia,
até que se fez flama em floração
clara e calou sua harmonia.

Floresceu, sem cessar, todo um verão
na árvore obstinada, noite e dia,
e se soube futura doação
diante do espaço que o acolhia.

E quando, enfim, se arredondou, oval,
na plenitude de sua alegria,
dentro da mesma casca que o encobria
volveu ao centro original.

(Tradução: Augusto de Campos)

redesenhando paulo vasconcelos
O mundo estava no rosto da amada -

O mundo estava no rosto da amada -
e logo converteu-se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.

Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?

Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.

(Tradução: Augusto de Campos)
retirado de http://www.culturapara.art.br/opoema/rainermariarilke/rainermariarilke.htm
visitem

segunda-feira, outubro 19, 2009

ALEXANDRE ACAMPORA RJ


Escritor, jornalista, poeta, cinco livros editados entre poesia, crônicas, paradidáticos e contos. Exerceu a Secretaria de Cultura da cidade de Palmas no Tocantins e já realizou tantas e tontas coisas que só quem bem o conhece pode testemunhar.

Morgana

Zuava zuave em meus sentidos a melodia zum...zum...zum..
Parecia me provocar a um bailado, a uma dança de olhos fechados
Me transportava para um bar de poucas luzes
Nevoado de fumaça de cigarros.
Zum zum zum sonava leve e sincopada como um tango romântico.

Muitos zuns já foram reconhecidos como zumzumzum, balbúdia, confusão.
Outros foram interpretados como velocidade, rapidez.
Zuns há ainda, que representam barulhos de turbinas ou foguetes.

Esses eram outros zuns.
A suavidade de sua vibração
A melodia delimitada milimétricamente
A linguagem universal da música.
Serão as musas? Será a musa?
Zum..zum...zum...replicava
E me fazia bailar nas calçadas de olhos fechados
Com a consciência naquele bar de poucas luzes
Eu já dançava pelas avenidas repetindo as elipses melódicas do zum...zum...zum
Que me trazia o hálito lúbrico de uma mulher agarrada a meu corpo
Conduzindo o bailado com olhos fixos em meus olhos.
Olhos vítreos.
Sem piscar.
Dançávamos como colados os corpos, siaméticos
A dança era suave, leve como um tango romântico
Atrevido em viravoltas e rodopios súbitos.
A fumaça dos cigarros envolvia meus olhos
E a silhueta da mulher permanecia na penumbra nos fundos do bar.
Esmaecida.
Seu vestido justo modulava as curvas do corpo como as curvas helicoidais que a fumaça produzia.
Zum...zum...zum ao fundo...
Zum...zum...zum era a trilha sonora de minhas profundezas.
A mulher beija com forte lingua minha boca
E assim pesca meu espirito e me levanta ao sincopado bailar.
Zum...zum...zum.....
Dançamos de linguas encaramboladas
E corpos soltos
Para logo depois
Um salamaleque nos envolver pela cintura num abraço forte sensual decidido, decisivo.
E zum...zum...zum a música continuava.
Zum...zum...zum a música permanece
Pour la eternité.

Alexandre Acampora

Panorama da Poesia Brasileira Contemporânea

redesenhando p Vasconcelos


Fábio Lucas


Abaixo, a transcrição do que está sendo considerado o mais fundamental e decisivo texto crítico publicado sobre poesia brasileira nos últimos anos. O texto é assinado pelo Prof. Fábio Lucas, unanimemente apontado como um dos três críticos literários mais importantes do Brasil, ao lado de Antônio Cândido e Wilson Martins. O grande crítico põe o dedo na ferida e expõe o que está realmente ocorrendo com a poesia brasileira, já que há muita gente que não está compreendendo nada de nada. O texto saiu inicialmente no tablóide literário mensal Linguagem Viva Ano XIII n. 145, São Paulo, setembro 2001, p.4, bem como em O Escritor-Jornal da União Brasileira de Escritores nº 97, S.Paulo, novembro de 2001, repercutiu bastante e continua repercutindo. Foi republicado e está sendo repetido em várias publicações em papel e eletrônicas. Sairá também no próximo número das revistas Caliban (Rio de Janeiro) e Literatura-Revista do Escritor Brasileiro (apontada como a melhor publicação literária de Brasília).

Sentimos a crise do paradigma sociocultural da Modernidade, sob os efeitos, portanto, do colapso das expectativas. Numa visão retrospectiva, temos que o Romantismo entronizou o individualismo e as manifestações subjetivas do “eu”, disposição do espírito que passou às vanguardas e ao Modernismo.

Mas, nas várias circunstâncias, o paradigma se exprime sob a forma de um cânone que pode ser considerado como sua fração menor.

Na fase atual da poesia brasileira, o que se nota é um aspecto mais fragmentário do que na era do culto do “eu’, de vez que a crise do paradigma representa a erosão do sistema literário. Deste modo, desligado do cânone e desfeito o sistema da literatura, o poeta se sente numa espécie de aurora da gênese, ou seja, liberto de qualquer regra ou convenção literária.

Todavia, como a arte é comunicação e, de certo modo, intersubjetividade, reconstituíram-se certas práticas tribais no dorso do grande gigante urbano. Pequenos núcleos, pequenas publicações, revistas e jornais, acolhem grupos emergentes ante a inércia cultural dos grandes veículos da imprensa, comandados pelo mercado e pela indústria do lucro. Nada há de inocente ou experimental na grande imprensa, mas o desmonte programado das práticas não utilitárias. O pior é que as universidades espelham-se nos jornais capitaneados, quase sempre, por jornalistas e escribas “funcionais”, prisioneiros das regras elementares do sensacionalismo comercial.

E os poetas? Distinguem-se por duas vias tradicionais: o apuro técnico e o respeito pela tradição. Quando leio poetas como Marco Lucchesi, Ivan Junqueira, Armando Freitas Filho, Luiz F. Papi, Lêdo Ivo, Ferreira Gullar, Affonso Rommanno de Sant’Annna, Marina Colasanti, Foed Castro Chamma, Hilda Hilst, Renata Pallottini, Dora Ferreira da Silva, Mário Chamie, Lenilde Freitas, Marcos Accioly, César Leal, Majela Colares, Virgílio Maia, Francisco Carvalho, Jorge Tufic, Nauro Machado, Arlete Nogueira da Cruz, José Chagas, João de Deus Paes Loureiro, Ruy Espinheira Filho, Ildásio Tavares, Miriam Fraga, Sérgio Castro Pinto, Marcos de Farias Costa, Carlos Nejar, Dois Santos dos Santos, Leonor Scliar-Cabral, Alcides Buss, Manuel de Barros, Raquel Naveira, Aricy Curvello, Yeda Prates Bernis, Adélia Prado, Edimilson de Almeida Pereira, Alberto da Costa e Silva, Stella Leonardos, Roberto Piva e tantos outros do mesmo nível, convenço-me da diversidade de manifestações, mas de consciência literária da melhor qualidade. Todas ausentes de um cânone. Ficam de fora centenas, senão milhares de poetas, lúcidos alguns, muitos ingênuos, distantes todos de qualquer classificação tendencial. Em suma, o panorama da poesia brasileira contemporânea assemelha-se a uma imensa constelação de estrelas solitárias, cada qual com o seu brilho e a sua trajetória.

Sobre o autor:

Fábio Lucas é escritor, crítico, membro da Academia Paulista de Letras e Presidente do Conselho da União Brasileira de Escritores. Ex-Diretor do Instituto Nacional do Livro. Apontado como um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais de literatura brasileira.
http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=158&rv=Literatura

domingo, outubro 18, 2009

Alphonsus de Guimaraens

fotos redefinidas P Vasconcelos



LITERATURA EM FOCO
REVISTA LITERÁRIA ON-LINE
Três poemas de Alphonsus de Guimaraens

O Brasil ao longo de sua história literária contou com vários poetas de destaque que fizeram parte dos diversos estilos de época que estiveram em voga no país. Dentre os mais marcantes, sem dúvidas, podemos citar o nome de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), poeta de Minas Gerais, que ficou conhecido por sua poesia simbolista, onde o tema do amor e da morte estão intrinsecamente ligados
A crítica do século XIX não deu valor nenhum a obra do escritor. Os críticos do século posterior demoraram para reconhecer a importância do movimento Simbolista, e em consequência disso o prestígio do poeta mineiro. Provavelmente a falta de reconhecimento do autor de Kiriale, se deve ao fato de que com o Parnasianismo sendo adotado como forma oficial de expressão literária da jovem república, os autores simbolistas acabaram, por sua vez, sendo deixados de lado. Ademais, os críticos diziam que Cruz e Souza — outro grande nome do simbolismo brasileiro — e Alphonsus de Guimaraens eram apenas um pastiche de Baudelaire e Verlaine, respectivamente. Porém, a partir de 1935, graças a organização das obras do poeta mineiro que foi realizada por Manuel Bandeira e João Alphonsus, os críticos lançaram olhares mais justos acerca dos poemas do simbolista das Minas Gerais, dando-lhe dessa maneira o devido reconhecimento.
Pode-se dizer que os temas da poesia de Alphonsus de Guimaraens estejam intimamente ligados a um fato marcante em sua vida: o falecimento de sua noiva Constança, que se deu em decorrência da tuberculose. Todavia, outros aspectos tais como a natureza, a arte e a crença religiosa também possuem relevância nos versos do mineiro. Muitos caem no erro de taxar a poesia desse poeta simbolista de monótona, devido ao tema mórbido que é constantemente abordado em sua obra; como bem como ressalta Aflredo Bosi em História Concisa da literatura brasileira, “[...] não devemos cair na tentação de chamá-lo de poeta monótomo, a não ser que se dê à monotonia o valor positivo que ela assume em poetas maiores, um Petrarca ou um Leopardi, que souberam aprofundar até às raízes o seu motivo inspirador, permanecendo-lhe sempre fiéis.”.
Selecionamos três poemas do simbolista, todos fazem parte da primeira obra de Alphonsus, intitulada de Kiriale. Nessa estão reunidos poemas que foram escritos nos períodos de 1891 a 1895.

SETE DAMAS
Sete Damas por mim passaram.
E todas sete me beijaram.
E quer eu queira quer não queira.
Elas vêm cada sexta-feira.
Sei que plantaram sete ciprestes.
Nas remotas solidões agrestes.
Deixaram-me como um mendigo…
Se elas vão acabar comigo!
Todas, rezando os Ste Salmos.
No chão cavaram sete palmos.
À MEIA-NOITE
A Aug. de Viana do Castelo
Cheguei à meia-noite em ponto.
O caso deu-se como eu conto.
Cheio de lúgubre mistério…
Pois ela disse: “Ao cemitério
Vamos à meia-noite em ponto.”
E eu respondi-lhe: “Conto, conto
Contigo à meia-noite em ponto.”
Como eu sabia, ela outro amante
Tivera em tempo não distante.
Era já morto: eu uma esposa
Tinha também sob uma lousa.
E ela sabia desse amante.
Jaziam um do outro distante
O amante dela e a minha amante.
Bem não chegamos, os ciprestes
Agitaram as verdes vestes
Como arrojando-se de bruços…
Que ais de tristeza e que soluços
Gemeram tão verdes ciprestes.
Gemia o vento pelas vestes.
Verdes dos vírides ciprestes.
Paramos de repente à porta:
Eu era um morta, ela uma morta.
Tal foi a cena branca e nua
Que nós, clareados pela lua,
Olhamos bem ao pé da porta.
Eu era um morto, ela uma morta,
Sem movimento junto à porta.
Diante de nós, em frente, diante,
O amante dela e minha amante,
Espectros vis num mesmo quadro,
Vinham vagar, hirtos, pelo adro,
Diante de nós, em frente, diante…
O amante dela e a minha amante.
Riram, passando para diante.

OCASO
(Impressões de véspera de finados)
Perdido como estou nesta grande charneca,
Cheio de sede, cheio de fome,
Disse-se Deus: “Sê bom!” E o Diabo diz-me: “Peca!”
E os anjos e demônios repetem o meu nome.
O cemitério está, nas glórias deste ocaso,
Cheio de leitos como um hospital.
Eu sonho que estou morto e sonho que me caso…
Vou vestido de noivo e coberto de cal.
Eis o que vejo além nas glórias deste ocaso:
Mulheres velhas e mulheres novas,
Homens e crianças vão levando flores.
Não há coroas para tantas covas,
E nem pranto para tantas dores.
Se este padre vai para o meu enterro,
Deixai-o caminhar bem devagar.
O cemitério está no alto daquele cerro…
Que ele não possa, ó Deus, nunca mais lá chegar!
Se este carpinteiro que me segue,
Apronta as tábuas do meu caixão,
Fazei, Senhor me Deus, como que ele cegue
Antes de aprontar meu caixão. http://bit.ly/3pvN5K


Se estes senhores de tão negras calças
E de sobrecasacas tão modernas,
Querem pegar, tristíssimos, nas alças
(Pois se olham de tal modo quando eu passo),
Fazei, Senhor Meu Deus, como que suas pernas
Não possam dar mais passo.
(Alguém agita sudários no poente.)
Se este coveiro agora mesmo
Cavava minha cova inexistente,
Cantando e soluçando,
Fazei, Senhor meu Deus, com que ele agora mesmo
Caia na cova que está cavando.
Se a costureira que ali trabalha,
Em vez de camisa de noivado,
Vem oferecer-me esta mortalha,
Que ela não tenha, ó Deus, no leito em que repousa,
Nem a camisa branca do noivado,
Nem um noivo que a queira por esposa.
Se estes sinos vão dobrar por mim,
Se este é o momento do meu enterro,
Fiquem os sinos a esperar por mim…
Que eu nunca alcance, ó Deus, o alto daquele cerro!
Originally posted 2009-05-21 05:28:36. Republished by Old Post Promoter

sábado, outubro 17, 2009

Paul Valéry, sua poesia e inteligência

Paul Valery




redesenhando paulo vasconcelos

Paul Valéry, nasceu em Sète, França, em 1871. Publicou seu primeiro livro em 1907, aos 36 anos. Apesar disso é autor de uma obra vasta e original que abrange temas bem diversos como arquitetura, música, literatura e dança. Trabalhou em empresas públicas e acadêmicas e foi professor do Collège de France. Morreu em 1945, em Paris.
"Paul Valéry é um mestre da linguagem."
( Ezra Pound)http://bit.ly/XjY9T

OB O SOL

Sob o sol em meu leito após a água -
Sob o sol e sob o reflexo enorme do sol sobre o mar,
Sob a janela,
Sob os reflexos e os reflexos dos reflexos
Do sol e dos sóis sobre o mar
Nos vidros,
Após o banho, o café, as ideias,
Nu sob o sol em meu leito todo iluminado
Nu - só - louco -
Eu!
(tradução: Augusto de Campos)

.

A ADORMECIDA

Que segredo incandesces no peito, minha amiga,
Alma por doce máscara aspirando a flor?
De que alimentos vãos teu cândido calor
Gera essa irradiação: mulher adormecida?

Sopro, sonhos, silêncio, invencível quebranto,
Tu triunfas, ó paz mais potente que um pranto,
Quando de um pleno sono a onda grave e estendida
Conspira sobre o seio de tal inimiga

Dorme, dourada soma: sombras e abandono.
De tais dons cumulou-se esse temível sono,
Corça languidamente longa além do laço,

Que embora a alma ausente, em luta nos desertos,
Tua forma ao ventre puro, que veste um fluido braço,
Vela, Tua forma vela, e meus olhos: abertos.

(tradução: Augusto de Campos)

.

MORTE FALSA

Humilde, terno, numa tumba encantadora,
No monumento insensível,
Tanto de sombras, de abandonos, e de amores desperdiçados,
Que já se fazem em sua graça cansada,
Eu morro, eu morro em você, me caio e eu caio,
Mas dificilmente fico abatido embaixo do sepulcro,
Do qual a extensão das cinzas me convidam fundir-me,
Este óbvio morto, desses que ainda voltam a vida,
Tremores, dos olhos ativos, iluminados que mordam,
E sempre puxando-me para uma nova morte
Mais preciosa que vida.

(tradução: Eric Ponty )

.

O VINHO PERDIDO

Eu tenho, algum dia, no oceano,
(Mas eu não sei mais se debaixo de que céus),
Lançado, como não me oferecendo ao nada,
Todo um pequeno precioso vinho...

Quem quis esta perda, oh licor?
Eu obedeço, talvez ao vidente?
Talvez para a preocupação de meu coração,
Pensando em sangue, vertendo-me vinho?

Em transparência habitual
Depois da fumaça rosa
Recupera-me como o mais puro mar...

Perdido o vinho, misturado entre as ondas!...
Eu cuidei de saltar meu ar amargo
Das faces mais profundas...
.(tradução: Eric Ponty)







Paul Valéry, sua poesia e inteligência
O jornalista, músico e poeta Marco Pólo Guimarães recomenda o livro “A comédia intelectual de Paul Valéry”, de João Alexandre Barbosa. “Ele mostra como Valéry valorizava mais a inteligência do que a própria poesia”.
http://bit.ly/1SU9X

quinta-feira, outubro 15, 2009

JOÃO CABRAL DE MELO NETO – PELO ENCANTAMENTO DO POETA


Profa. Poetisa e Pesquisadora colaboradora do Blog MEL DA PALAVRA Selma Vasconcelos
João Cabral

Selma Vasconcelos

O estudo do “ fenômeno” João Cabral de Melo Neto não poderia esgotar-se na análise lingüística de sua poesia , que , inegavelmente, tem sido a preocupação recorrente dos estudiosos das letras, particularmente no meio acadêmico, pelas razoes facilmente dedutíveis.
A fenomenologia do homem-poeta revela o ser de inteligência aguda, racional, percepção sutil, sensorial , e que à maneira de Josué de Castro, colocava-se “ como um ser interessado no espetáculo do mundo”. Este seria, reconheçamos , o ponto de partida para a minuciosa observação daqueles escritores sobre o palco da vida .
No entanto, a preocupação partia do ator principal, ou seja, o homem frente à realidade percebida,às circunstancias determinantes e ao “ back-stage” das relações sociais , estruturas econômicas e políticas que dirigem o espetáculo. Esta atitude fez-lhe merecer , ao modo de Graciliano Ramos, na prosa, a identidade de humanista e sociólogo de nossa poesia .
João Cabral dizia-se um poeta crítico em relação á linguagem :” eu faço a poesia que o crítico João Cabral gostaria de escrever”.Contudo, a crítica da linguagem era um das múltiplas características inerentes ao poeta. Foi muito mais além. Preocupava-lhe o homem , sua circunstância e seu drama existencial.
Por ter espírito crítico e auto-crítico , olhava o fazer poético em uma dimensão aprofundada ,procurando trazer para o poema a essência do fazer artístico.
O grande poeta e dramaturgo alemão ,Goethe, declarou :“ a suprema e única operação de arte consiste na forma”; João Cabral fez da forma a sua obsessão.
As dificuldades a que se impôs, obviamente, foram exigências do espírito de multiartista . Foi alimentar-se na linguagem de arquitetos, pintores , músicos, dançarinos,toureiros , freqüentadores da taverna , e até religiosos , no sentido de somar com eles a inquietação diante de nossa pequenez e finitude .
Buscou pela linguagem a forma mais real do real, de modo que o próprio poema confunde-se com seu objeto e precisa explicar-se repetida e continuamente .
São alguns dos pressupostos para uma leitura do nosso poeta-pintor, desarmada dos preconceitos arcaizantes e estagnados que se contrapõem , ad initio , ao novo.
João Cabral ainda causa espanto entre os leitores de poesia Mas isso é um dos atributos da grande arte: a impertinência, o estranhamento, a provocação, a chamada à reflexão, o prazer do encantamento, o prescindir do entendimento cobrado no discurso , na prosa , e até na ficção.
O conflito do poeta entre a busca da “ arte pela arte “ dos primeiros tempos e a preocupação social da qual não conseguia eximir-se, explodiu em O Cão sem plumas, Composto em Barcelona (1950) edição do autor ( Livro Inconsútil.), sob o choque da notícia de que a esperança de vida dos pernambucanos( 28 anos) era menor do que a dos indianos( 29) na época..Neste poema ele faz uma analogia entre o” passo bovino” do rio e a indiferença das elites açucareiras pernambucanas :“ algo da estagnação / das árvores obesas/pingando os mil açucares/ das salas de jantar pernambucanas/ por onde se veio arrastando.
È a atitude do pernambucano que muda diante do mundo e faz mudar sua poesia , debruçando-a para a crua realidade social do Recife.Sobre o poema em questão , e seu conflito por uma linguagem de comunicação mais acessível , dizia o autor, em carta a Manuel Bandeira ( 1949): “ ando com muita preguiça e lentidão trabalhando num poema sobre o nosso Capibaribe. A coisa é lenta porque estou tentando cortar com ela muitas amarras com minha pesada literatura torre-de-marfim”.
A partir daí, mantém-se fiel aos seus princípios de construção da linguagem , mas procura trazer ao poema , coisas , gestos, paisagens , paixões , cidades, mulheres , temas universais tratados diferencialmente pelas mãos do grande artista.
O mundo reverencia João Cabral. Pernambuco deveria fazê-lo com muito mais zelo, pois seu canto ainda ecoa sobre o nosso rio, nossos canaviais, nossos cassacos , nossos retirantes , nossos cemitérios gerais e, sobretudo, nossa indiferença com o outro, ainda como homens - caranguejos, afundados nos poços de lama construídos com o “ sangue de pouca tinta” de nossos trabalhadores e daqueles que estão á margem da “sociedade”.

Faz dez anos que o poeta nos deixou fisicamente.Aqui fica a nossa reverencia à sua indestrutível memória . E aos cabalistas, uma questão: João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife, no dia 9 de janeiro de 1920 e faleceu em 9 de Outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro.



Selma Vasconcelos –

Selma Vasconcelos. Poetisa e Pesquisadora colaboradora do Blog MEL DA PALAVRA Professora UPE, com várias obras publicadas- na poesia, crônicas resenhas em Jornais Nacionais Artigos e poemas publicados Nacional e Internacionamente

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...