quinta-feira, dezembro 31, 2009

Poemas inéditos de Juan Ramón Jiménez en un calendario español



ESTE AUTOR FEZ PARTE DA MINHA FORMAÇÃO EM LITERATURA COM SUA OBRA -PLATERO Y YO-PLATERO E EU- P VASCONCELOS

Juan Ramón Jiménez Mantecón (Moguer, 23 de dezembro de 1881 — San Juan, 29 de maio de 1958) foi um poeta espanhol.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1956.

Entre outras obras escreveu "Melancolia", "Labirinto", "Estio", "Eternidades", "Poesia", "Beleza", "Canção" e "Platero e Eu".


"Balada del Jardín Eterno" es el nombre del "almanaque - libro" en el que se publican 12 textos desconocidos del Premio Nobel de Literatura 1956. Los poemas aluden a la pasión del autor por los jardines y la naturaleza y están ilustrados por el artista Pedro Garciarias.

Bajo la consigna de "Vivir todo el año al ritmo pausado y lírico del jardín", la editorial - y el hotel - "Ladrón de agua" de la ciudad de Granada, en España, acaba de lanzar un "almanaque - libro" en el que se incluyen 12 poemas inéditos del escritor Juan Ramón Jiménez. Los textos fueron seleccionados por Carmen Hernández Pinzón, sobrina nieta del poeta, y aparecen junto a ilustraciones del artista Pedro Garciarias.

«Juan Ramón siempre amó el jardín, fue un amor inculcado por su madre, la persona de quien él mismo dice que todo lo aprendió. Juan Ramón vivió la magia del jardín desde su infancia, y cuando murió su abuela escribió un poema donde decía que era el jardinero quien se la había llevado. En su obra la alusión al jardín es constante» contó Hernández Pinzón. Con una edición limitada, "Balada del Jardín Eterno" incluye un total de 13 poemas. Los textos inéditos fueron descubiertos en Madrid y en Puerto Rico, país en donde el poeta vivió gran parte de su exilio y en el que finalmente murió en 1958.

A fines del mes de noviembre, la Universidad de Puerto Rico anunció el comienzo de las tareas de digitalización del archivo del escritor, que se calcula que está compuesto por 200.000 manuscritos.POR EL CLARIN -REVISTA Ñ


Juan Ramón Jiménez

Inflama-me, poente: faz-me perfume e chama;
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
...e o vento do esquecimento arraste o que é doente!


Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.

Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.

E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.


Encontro de duas mãos
que procuram estrelas,
nas entranhas da noite!


Está tão puro já meu coração,
que é o mesmo que morra
ou cante.


A terra leva-nos por terra;
mas tu, mar,
levas-nos pelo céu.


Que acontece a uma música,
quando deixa de soar;
e a uma brisa que deixa
de voar,
e a uma luz que se apaga?
Morte, diz: que és tu, senão silêncio,
calma e sombra?


Todas as rosas são a mesma rosa,
amor!, a única rosa;
e tudo está contido nela,
breve imagem do mundo,
amor!, a única rosa.


A rosa:
tua nudez feita graça.
A fonte:
tua nudez feita água.

A estrela:
tua nudez feita alma.


A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.


Quando eu estiver com as raízes
chama-me com tua voz.
Irá parecer-me que entra
a tremer a luz do sol.
POR http://www.astormentas.com/jimenez.htm

sábado, dezembro 19, 2009

Paulo Neves: "A poesia não se perdeu, o seu lugar social é que ficou difícil de localizar"

Paulo Neves construiu uma admirável carreira como tradutor, sobretudo da língua francesa
Foto:Júlio Cordeiro
by http://bit.ly/5WDI3H ZERO HORA LEIA MAIS Lá
Autor de versos tidos como brilhantes e irretocáveis, discreto e ainda pouco conhecido, o poeta porto-alegrense rompe o silêncio e fala sobre seu processo de criação
Eduardo Veras | eduardo.veras@zerohora.com.br
Paulo Neves é sujeito discreto, sereno, desinteressado das badalações mundanas, avesso ao reconhecimento público. Há três anos, quando lançou o livro Viagem, espera, belo volume de poesia e prosa, ele educadamente se desculpou, mas não quis conceder uma entrevista para Zero Hora. Recusou-se até mesmo a posar para fotografias. Ponderava:

– Não é o melhor momento. Estou lançando um livro. Quem sabe mais tarde.

Em um mundo no qual tanta gente almeja a fama, em que tanta gente faz concessões de qualquer tipo para chamar atenção e ser incensado, Paulo Neves prefere o recato.

Eis que, agora, sem aquilo que no jargão das redações se chama de “gancho jornalístico”, sem o compromisso com a agenda cultural da cidade, o poeta finalmente concorda com a ideia de uma entrevista. O que o seduz é o tema proposto pela reportagem: o processo de criação. Faz apenas uma exigência: que a entrevista seja por escrito, via e-mail. E aceita ser fotografado. É uma entrevista rara, portanto, aquela que se oferece aqui, assim como é rara a figura desse poeta.

Porto-alegrense de 62 anos, Paulo Azevedo Neves da Silva construiu uma admirável carreira como tradutor, sobretudo da língua francesa. É disputado por grandes editoras, como a Companhia das Letras, a Cosac & Naify ou a gaúcha L&PM. É reconhecido pela versão de textos difíceis em áreas como Filosofia, História e Psicanálise. Na sua lista de traduções para o português, constam títulos como Saudades do Brasil, de Claude Lévi-Strauss, ou a biografia de Jacques Lacan por Elisabeth Roudinesco. Também são conhecidas suas versões para clássicos da literatura, como O Vermelho e o Negro, de Stendhal, e A Mulher de Trinta Anos, de Balzac, ou textos mais recentes, como O Convidado Surpresa, de Grégoire Bouillier, e Os Homens que Não Amavam as Mulheres, de Stieg Larsson. É também parceiro de José Miguel Wisnik em canções como Pérolas aos Poucos, Pesar do Mundo e Saudade da Saudade. Em mais de um show em Porto Alegre, o músico paulista saudou publicamente o amigo, que, mesmo nessas horas, se mostrou arredio.

Casado com a professora Miriam, pai de Nicolau, João e Davi, Paulo passou pelos cursos de Filosofia (na USP) e Ciências Biológicas (UFRGS). Chegou a trabalhar como jornalista na São Paulo dos anos 70 e 80. Em 1985, publicou o livro Mixagem, o Ouvido Musical do Brasil, breve ensaio resultante de uma pesquisa feita para a Funarte. Em 2006, lançou Viagem, espera (Companhia das Letras, 128 páginas, R$ 32), reunião de 40 poemas e 32 crônicas curtas. O livro, na época, foi muito bem recebido pela crítica. Em artigo para o Segundo Caderno, o professor Luís Augusto Fischer saudou o poder de sedução de sua linguagem: “controlada, precisa, brilhante, irretocável”.

Na entrevista a seguir, Neves fala sobre o exercício criativo, revê sua formação e discute as tensões e os acasos da invenção poética.

Cultura – Gostaria de focar esta entrevista no seu processo de criação poética. Você poderia começar comentando, de uma forma mais geral, como percebe a poesia, hoje, no Brasil?

Paulo Neves – Vou começar pela segunda parte da pergunta, tentando resumir um tema muito amplo. A poesia sempre gozou de certo prestígio na sociedade, mesmo sendo uma atividade marginal. Essa situação parece ter mudado nas últimas décadas. Editam-se proporcionalmente menos livros de poesia e é raro que se fale dela fora das universidades. Quase não há mais revistas ou suplementos literários. É verdade que na Internet estão surgindo muitos sites de poesia, sei mesmo de poetas que põem esperança nesse novo campo. Mas o que observo (e isso vale para toda a Internet) é que ficou mais difícil de avaliar o que se produz, não só por causa da dispersão, mas porque a nossa época tende a valorizar a expressão em detrimento da invenção e da crítica. E isso é problemático para o fazer poético, ainda mais quando se sabe que este não é uma atividade puramente solitária mas envolve um diálogo com o mundo, diálogo que hoje me parece diminuído em comparação com o passado.

Cultura – Houve uma perda de referências? Não há mais movimentos ou vozes fortes na poesia?

Neves – De fato, e não só na poesia. As grandes referências continuam sendo Bandeira, Drummond, João Cabral, a poesia concreta, que dialogavam mais com seus leitores e também entre si. A poesia não se perdeu, o seu lugar social é que ficou difícil de localizar. Mas é preciso levar em conta um lado positivo nessa pulverização: ela aguça a sensibilidade para coisas miúdas antes não valorizadas, como se pode ver num Manoel de Barros, por exemplo. Sem falar que a poesia continua sendo uma “reserva ecológica” da respiração juvenil da sociedade. O simples fato de alguém querer escrever poesia já é um sinal de saudável inutilidade num mundo cada vez mais utilitarista. Depois de ler Vinícius de Moraes no começo dos anos 60, passei a reconhecer sempre na poesia um componente libertário que independe de época e de estilo e se aplica tanto à linguagem quanto à vida.

Cultura – Queria saber sobre a sua formação como poeta. Quais foram as principais referências?

Neves – Minha formação esteve inicialmente ligada à filosofia, mas não me tornei filósofo nem tenho a consciência muito clara de ser poeta. Sempre gostei de poesia, fui muito influenciado por poetas-pensadores como Drummond, Pessoa, Rilke, mas raramente consigo escrever poemas e nunca muito extensos. É mais por temperamento que por estilo. E é a razão também por que só cheguei a publicar um livro de poesia muito tarde na vida, aliás junto com textos em prosa.

Cultura – Qual seria a diferença entre a sua escrita poética e a sua escrita em prosa? E também com as letras de canções que você faz ocasionalmente?

Neves – Minha poesia, com poucas figuras e metáforas, é quase prosa, e a minha prosa, marcada pelo ritmo e por paralelismos, é quase poesia. Assim a diferença é bastante sutil e por isso fiz questão de pôr as duas juntas no meu livro, mesmo com o risco de não saberem como classificá-lo. Quanto às letras de canções, elas resultaram da minha paixão amadorística pela música, que eu considero, com a pintura, um complemento necessário da percepção poética e sem o qual a própria poesia se empobrece. Acho que todo processo de criação, por mais específico que seja, se beneficia muito do convívio com as outras artes.

Cultura – Esse convívio, em geral, é visto como um convívio sob tensão. A tensão pode ser benéfica à criação?

Neves – A tensão é benéfica, sem dúvida, pois impede que o artista se instale confortavelmente no domínio das suas habilidades. E é sobretudo ao se confrontar com outras artes que ele vê o quanto ainda lhe falta aprender para uma expressão humana mais completa.

Cultura – Como sua atividade de tradutor convive com a escrita mais autoral?

Neves – Eu não me tornei tradutor por livre escolha, fui forçado a buscar esse meio de sobrevivência quando o meu trabalho anterior como jornalista se restringiu (eu não tinha diploma). Mas coincidiu que eu possuía muitas das características psicológicas de um tradutor, que precisa ser metódico, paciente, inventivo quando necessário, o que explica eu estar há mais de 20 anos nesse ofício apesar do seu isolamento e da sua pouca valorização. E a tradução também ajudou a me tornar mais consciente como escritor, é um aprendizado de leitura que requer saber interpretar a fundo o que diz o outro. Observo que muitos jovens têm pressa de publicar o que escrevem, quando fariam melhor se dedicassem algum tempo, mesmo não sendo tradutores profissionais, ao exercício de traduzir um texto em prosa ou em poesia.

Cultura – Na poesia, quais são suas inquietações atuais? Algum projeto em vista?

Neves – Não sou um poeta produtivo. Invejo os que escrevem mais espontaneamente, pois para mim a poesia é rara, ainda que a todo momento eu julgue adivinhá-la próxima, nos interstícios do cotidiano. E sinto a mesma dificuldade na prosa, também condensada, também movida apenas por uma necessidade interior. Quando publiquei o meu livro em 2006, reunindo um material escrito ao longo de vários anos, críticos disseram, embora não fosse um parecer desfavorável, que a minha escrita parecia um recomeço perpétuo e não anunciava um projeto de continuidade. O que posso dizer é que até agora esses críticos têm razão. O que continuo a escrever ainda é uma longa espera de uma nova e incerta viagem. Mas felizmente a criação poética é um processo aberto e conto sempre com o inesperado.

Cultura – Como seria a ocorrência do inesperado na criação poética? É possível esperar o inesperado? Você poderia comentar a partir de um exemplo?

Neves – Darei como exemplo uma canção do Gilberto Gil chamada Se Eu Quiser Falar com Deus (do disco Luar, 1981). A letra descreve como que o momento da negatividade de todo processo de criação e crescimento espiritual. Primeiro ela diz que é preciso ficar a sós, apagar a luz, aceitar a dor etc.; depois, na última estrofe, que é preciso se aventurar, caminhar pela estrada “que ao findar vai dar em nada”, e então Gil repetirá 12 vezes a palavra “nada...” para no final concluir: “...do que eu pensava encontrar”. O maravilhoso aqui é que o próprio nada se frustra e acaba adquirindo outro sentido, inesperado, graças a uma virada poética. Evidentemente não se pode esperar o inesperado, mas pode-se aceitá-lo.

Cultura – Noto nas suas respostas (e já havia notado na sua poesia) uma exigência severa consigo mesmo. O rigor é essencial à criação?

Neves – Acho essencial a qualquer criação, pelo menos interiormente. Mas há artistas que se manifestam de maneira mais solta, sem preocupação de coerência, e esse é o caso de muitos gênios que, segundo Hannah Arendt, vivem em concordância natural com o mundo mesmo quando o desafiam. Não é o caso da maioria dos artistas, que possuem dons mais limitados e cuja busca é mais tortuosa. Mas o rigor é sobretudo a marca de poetas que perseguem com afinco uma precisão da linguagem no limite do indizível, e o modelo supremo é o haicai japonês, do qual eu tento, muito de longe, me aproximar.

Cultura – E como é a questão do fracasso na criação? O fracasso tem a ver com o inesperado, mas é diferente dele. Como aceitar o fracasso?

Neves – Há o fracasso que resulta da concepção errada de uma obra, da escolha de meios errados, e é um fracasso corrigível quando se trata de um verdadeiro artista, que percebe o que faz. Mas há um fracasso mais profundo relacionado a uma incapacidade de expressão ou a um sentimento de impotência da própria arte no mundo, e esse é muito mais difícil de aceitar. Um texto em prosa do meu livro (que a editora pôs na contracapa) fala justamente da consciência de uma distância entre ambição e recursos que somente a poesia não buscada, aquela que vem por uma espécie de graça, consegue anular e transpor. E eu digo ali que poesia não é mais que provisão do provisório, como o alimento. Ou seja, é uma pequena vitória sobre o fracasso, jamais garantida, simplesmente porque somos filhos do Tempo.

Inéditos de Paulo Neves

A concha vazia

Refugo do mar jogado na areia.
Vento em rodopio nas suas volutas.
Refúgio do mar, canto de sereia
que o tempo esculpiu. A forma da escuta.

O coração quando jovem

Não há como resgatar
sua pureza perversa,
seus amores patéticos,
seu desejo agonístico
de poesia e revolução.
O que foi belo e se abriu
confusamente ao mundo
não se vive duas vezes,
mas também não se esquece.

Contradição

Eu esquiava sobre montanhas de dor.
O coração abismado na terra estranha
não compreendia o que era inverno e verão.
A neve ardia em duro combate com a luz.
Nas pernas vibrava uma voz que me dizia:
Segue, não te detenhas na contradição.

Das possibilidades

Das possibilidades que nos sonhamos
resta-nos afinal somente uma,
a que somos e no início rejeitamos.
A menos que, milagrosamente,
uma outra não sonhada se apresente
e realize todas – sendo ela nula.

terça-feira, dezembro 15, 2009

SELMA VASCONCELOS



CAIS


QUERO APRENDER COM OS BARCOS
A LIÇÃO DE PACIÊNCIA
AS ÁGUAS INQUIETAS
OS AÇOITAM A CADA INSTANTE
E ELES PARECEM RIR OU DORMIR PROFUNDAMENTE


SELMA VASCONCELOS É POETISA PERNAMBUCANA PREMIADA NACIONAL E INTERNCIONALMENTE COM LIVROS PUBLICADOS E PESQUISADORA DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO, COM OBRA SOBRE ESTE

domingo, dezembro 13, 2009

Livro resgata a obra e a história do poeta boêmio Luiz Leitão



Uelinton Farias Alves, JB Online LEIA MIAS EM IDEIAS E LIVROS JB RIO

RIO - A vida apertada de Luiz Leitão se transformou em versos humorísticos de belíssima qualidade. A segunda edição de seu raríssimo livro – Vida apertada: sonetos humorísticos, oportunamente organizada por Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens – cuja primeira edição é de 1926, traz à baila a figura sem par de um dos poetas mais criativos do grupo que se reunia no lendário Café Paris, na antiga Niterói do início do século 20. Da roda, segundo Luís Antônio Pimentel, faziam parte Gomes Filho, Brazil dos Reis, Luiz Gonzaga e Nestor Tangerini, este último também muito conceituado, por ser, além de poeta “endiabrado”, jornalista e teatrólogo de grande talento, cujas peças teatrais tiveram no elenco, entre outros, astros como Oscarito e Grande Otelo.

No caso de Luiz Leitão (1890-1936), o resgate de sua obra é, ao mesmo tempo, o resgate de uma tradição da literatura brasileira e universal, que são os versos de circunstância que consagraram autores como Artur Azevedo, Emílio de Meneses e Bastos Tigre, para citarmos apenas alguns “imortais”.

Nascido no auge do movimento literário que nos legou o parnasianismo de Olavo Bilac e o simbolismo de Cruz e Sousa, e tendo vivido os tempos agitados da Semana de Arte Moderna de 1922, Luiz Leitão absorveu, na sua Niterói provinciana, sob o influxo da águas da baía de Guanabara, todo o clima gerado pelas correntes literárias migratórias, que percorreram o Brasil de norte a sul, e geraram trabalhos criativos e inspirados.

O Café Paris, reduto boêmio onde a grei se reunia, abarcava as ideias revolucionárias típicas do momento. Sem acesso à grande imprensa, passaram a editores de si mesmos: Luiz Leitão, conhecido pela alcunha de Lili Leitão (“Leitão que nunca há de chegar a porco”), publicava o seu próprio jornal, O Almofadinha, que provocava gargalhadas quando saía, na sua pobre irregularidade. Nestes versos, dizia sobre sua dureza: “Devo, não nego, estou devendo à beça!/ Aos próprios santos, de quem não desdenho,/ A cada um deles, devo uma promessa”. Neste outro, glosa o “Ouvir estrelas...”, de Bilac: “Eu vos direi: 'Gastai para entendê-las/ Pois só quem gasta o burro do dinheiro/ É que pode, de fato, ouvir estrelas'”. Sempre um autor inspirado, Luiz Leitão se sobressaía ao grupo, e era, certamente, o mais experiente escritor entre todos. Seus versos logo corriam das páginas dos jornalecos e livretos para a língua afiada da rapaziada, popularizado seu autor. A fama de poeta alegre, versátil, bom de rima, fez de Luiz Leitão uma espécie de autoridade do verso satírico.

Membro da “academia de letras... protestadas”, como ele mesmo dizia, Luiz Leitão foi um niteroiense atípico. Funcionário público municipal, divide seu tempo entre escrever revistas para o Cinema Éden e suas atividades nos cenáculos que vai fundando.

Ao publicar A vida apertada, no qual reúne seus 32 sonetos humorísticos mais conhecidos, Luiz Leitão está no auge da carreira. Ao falecer, tuberculoso, aos 46 anos, ainda desfruta de grande fama, sendo festejado pelos amigos da roda. Nada mais seria igual sem a sua presença. Até os vermes protestariam, mas satisfeitos. O amigo Nestor Tangerini assim proporia um epitáfio: “Quando ele à cova baixou / pleno de cana e de graça, / um verme aos outros gritou: / – Moçada, temos cachaça”.

A nova publicação do seu livro, importante sobre todos os aspectos, vem acrescentada do fac-símile da edição princeps, de 1926, bem como de fortuna critica, com destaque para os “Extratos miscelânicos sobre Lili Leitão” e “Lili Leitão, poeta e boêmio de Niterói”, de Alberto Valle, além de um curioso glossário. Para a história da literatura niteroiense, revistar Luiz Leitão na republicação de sua obra é, sem qualquer dúvida, uma oportunidade bastante surpreendente.

sábado, dezembro 12, 2009

ROMANCEIRO ATUALIZADO DE GRANADA- Lucila Nogueira




Nas grutas de Sacromonte
já não há cigano algum
Das muralhas de Albaicin
A sorte não me chegou


A tumba de Joana a louca
não fui ver na Catedral
a Alhambra e o Generalife
tem algo de Disneyworld

Os guias contam estórias
sem qualquer convicção
e os turistas fazem cooper
sobre as ruínas do Islam

As grutas de Sacromonte
são discotecas de rock
e em Granada à meia-noite
vejo um filme de terror

Não vi a tumba de Lorca
não vi a tumba de Joana:
prefiro trazê-los vivos
fantasia na garganta


Lucila Nogueira nasceu no Rio de Janeiro. Ela é poeta, ensaísta, contista, crítica literária, professora universitária e tradutora . Tem 18 livros de poesia publicados: Almenara, 1979; Peito aberto,1983; Quasar, 1987; A dama de Alicante, 1990; O Livro do Desencanto, 1991; Ainadamar, 1996; Ilaiana, 1997-2000; Zinganares, 1998; Imilce, 1999; Amaya, 2001; A Quarta Forma do Delírio, 2002; Refletores, 2002; Bastidores, 2002; Desespero Blue, 2003; Estocolmo, 2004; Mar Camoniano, 2005; Saudade de Inês de Castro, 2005; Poesia em Medellin; 2006. Com seu primeiro livro, Almenara, recebeu o prêmio de poesia Manuel Bandeira do governo do estado de Pernambuco em 1978,obtendo o mesmo prêmio pelo livro Quasar em 1986. Como ensaísta, publicou Ideologia e Forma Literária em Carlos Drummond de Andrade (terceira edição em 2002) e A lenda de Fernando Pessoa em 2003. Nesse momento tem no prelo o O Cordão Encantado, sua tese de doutorado defendida em 2002 sobre os livros O Cão sem Plumas e Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. Professora da Pós-Graduação em Letras e Linguística na Universidade Federal de Pernambuco, tem um carinho especial pela Graduação onde dá aulas de literaturas brasileira e portuguesa, teoria da literatura e língua portuguesa; dirigiu o Departamento de Letras nos anos de 1998 e 1999.

Ela é membro da Academia Pernambucana de Letras e sócia-correspondente da Academia Brasileira de Filologia, situada no Rio de Janeiro. Participou da Comissão Julgadora do Prêmio Binacional Brasil-Argentina e tem pertencido ao corpo de jurados do Prêmio de Literatura Brasileira da Portugal Telecom desde 2003, quando atuou na Comissão Artística. Faz recitais e organiza colóquios, seminários e edições de livros quer acadêmicos, quer dos alunos da sua Oficina Literária de Poesia e Conto, revelando novos valores e fazendo intercâmbio entre autores ibero-americanos. Participa do comitê editorial da revista online Máfua, da Universidade Federal de Santa Catarina e colabora com a revista virtual Agulha, editada por Floriano Martins e Cláudio Willer.





RETIRADO DEhttp://palavrarte.com/poemas_poetas/poempoe_poebrasI.htm#poeta2 E http://bit.ly/6lvqKZ LEIA MIAS LÁ

CASA DAS ROSAS


quarta-feira, dezembro 09, 2009

tramas verbais da deisi beier

Imagem P Vasconcelos 2009
Retirado de http://www.poesiahoje.com/2009/09/tramas-verbais-da-deisi-beier.html visitem



A multidão que me habita
às margens da consciência líquida
acenava às funduras
incrédula:

minha nau partira
sob as velas de hibiscos rosados

de mim
o mesmo
nunca mais ficou

ia-se rasgando a água
tão-somente
aparente mente
tranqüila



Deisi Beier nasceu em Porto Alegre. Cresceu nas pequenas cidades do interior do RS, e regressou à capital, com a família, aos 16 anos. Formada em Direito, pela UFRGS, trabalha com as palavras desde então. Estreou na literatura em 2008 com o livro Tramas de Orvalho, Editora Movimento. Escreve no blog www.filhosdeorfeu.blogspot.com , em parceria com o poeta Jaime Medeiros Jr

O Corte


Como o corte da maçã
entremeastes docemente a faca e tua ausência
Rene Caja

domingo, dezembro 06, 2009

Orides Fontela (1940 - 1998) da série "Sintonia da nossa sincronia"


(RETIRADO DA REVISTA MODO DE USAR ......VISITEM...http://revistamododeusar.blogspot.com/2008/04/orides-fontela-1940-1998.html)



Orides Fontela nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Mudou-se para a capital paulista para estudar filosofia e publicou seu primeiro livro, chamado Transposição, em 1969, seguido de outras quatro coletâneas de poemas, compiladas em 2006 no volumePoesia Reunida 1969 - 1996, oito anos após a morte da poeta.

É costume descrever o temperamento de Orides Fontela em notas biográficas como esta, além de certa lenda que já se fixou em torno de sua biografia, para logo em seguida descartar esta mesma biografia em prol da descrição de sua poesia "enxuta", "concisa", "cristalina". Estes adjetivos fazem sentido em uma descrição da obra da poeta, assim como em seus poemas a primeira pessoa do singular parece estar consistentemente exilada dos verbos. A biografia de Orides Fontela importa pouco para a avaliação formal de seu trabalho, mas eu tenho certeza que haveria outra forma de pensar a conexão entre a obra e a vida do poeta. No caso de Fontela, não estariam ligados, a pobreza física e material de Orides Fontela e seu despojamento estilístico, o próprio desnudamento de sua poesia? Uma mulher sem casa, sem amores, talvez pudesse realmente louvar apenas o oxigênio. Pobreza, veja bem, de uma poeta que negou o adorno e embelezamento poético até suas últimas consequências, e escreveu preferir, como trocas, "Um fruto por um / ácido / um sol por um / sigilo / o oceano por um / núcleo // o espaço por uma / fuga / a fuga por um / silêncio//- riquezas por uma / nudez."

Fala-se de neosimbolismo em sua poesia, por seu uso de substantivos que nos convidam a vê-los como "símbolos", freqüentes em sua poética, como "pássaros", "espelhos" e "rios" circundando o mundo. Eles convidam a isto. Mas algo muito importante separa o trabalho de Orides Fontela da poética dos neosimbolistas brasileiros, um dia reunidos em torno da revista Festa, comandada por Tasso da Silveira, dos quais hoje lemos apenas Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa. Pois seus melhores poemas demonstram sua atenção linguística de poeta do pós-guerra, em um momento histórico que exigia, de seus símbolos, a consciência de serem signos, de uma poeta que compreendia nutrir sua simbologia pela linguagem, que a filtrava. Leia-se, por exemplo, o poema "Cisne", do livro Alba (1983):

Cisne

Humanizar o cisne
é violentá-lo. Mas
também quem nos dirá
o arisco esplendor
– a presença do cisne?

Como dizê-lo? Densa
a palavra fere
o branco
expulsa a presença e – humana –
é esplendor memória
e sangue.

E
resta
não o cisne: a
palavra

– a palavra mesmo
cisne.


Em Orides Fontela, o símbolo se faz signo, num movimento de mão dupla, em fluxo e refluxo, como se a linguagem poética, em sua capacidade múltipla de concretude e abstração, passasse a ter marés. Se Fontela está ligada por temperamento a poetas como Cecília Meireles e, por sua vez, a Cruz e Sousa, seu simbolismo "sígnico" faz Orides Fontela mais próxima, creio, da Henriqueta Lisboa de um livro como Além da Imagem (1963); não a Henriqueta Lisboa de A face lívida (1945) ou Flor da morte (1949), mas a poeta consciente dos jogos e artifícios da linguagem e dos símbolos/signos, a poeta que esta parece se tornar a partir da década de 50 (e que precisamos voltar a ler), especialmente em livros como o já citado Além da imagemou no livro Reverberações (1976).

Este simbolismo sígnico também aproxima Orides Fontela de um poeta como Wallace Stevens, que fez da apropriação do mundo pela consciência, através da linguagem, o jogo poético por excelência. Mas, se em Stevens este embate e organização do mundo pela consciência é assunto humano e apenas humano, sem sombra de transcendência, Orides Fontela manteve um fio místico em sua poesia, e seus livros possuem movimentos rotatórios, sofrendo enxugamento e pousando em concretude no chão do mundo, no poema de uma página, para logo em seguida abandonar-se em certo ambiente etéreo e simbolicamente carregado no poema da página seguinte.

Como se a poesia de Orides Fontela não se decidisse de forma definitiva entre a destruição do mundo por uma força centrípeta ou centrífuga. Seus poemas têm, em minha opinião, apesar da superfície polida de cristal, uma violência sem muitos paralelos na poesia do pós-guerra no Brasil. O mesmo tormento possa talvez ser sentido na prosa e poesia de Hilda Hilst, mas nesta outra mística a solução era o escárnio e a exuberância do dilúvio, enquanto em Orides Fontela o desértico, daquele que jamais possuiu coisa alguma, era preferível. Algo deste fluxo e refluxo, entre o concreto e o abstrato, entre o símbolo e o signo, pode ser sentido em vários poemas. Em "São Sebastião", do livroHelianto (1973), temos a concreção centrípeta do símbolo fazendo-se signo, do verbo fazendo-se carne, do mito ganhando corpo de sangue e osso.

São Sebastião

As setas
– cruas – no corpo

as setas
no fresco sangue

as setas
na nudez jovem

as setas
– firmes – confirmando
a carne.

A primeira vez que li este poema, estava de pé, à saída da biblioteca da Faculdade de Letras da USP, e quase tive uma vertigem. O título convida-nos à expectativa do etéreo de uma hagiografia. Nada poderia parecer mais distante de uma poética do corpóreo e do físico. As primeiras imagens ainda nos remetem à estátua do santo, do mito. Imaginamos este ser inexistente, pensamos no místico, no sacrifício impensável. No entanto, a progressão vagarosa de Orides Fontela é a de um bote de serpente, pois ela nos leva até o último verso, quando se revela não a estátua do santo, mas a carne viva do homem antes do santo. O poema parece-me de uma violência quase brutal. Sebastião deixa de ser mito e metáfora para fazer-se figura, figura como conceito da teologia cristã, FIGURA, em que um acontecimento histórico liga-se a outro acontecimento histórico, prefigurando-o, dois fatos distintos e temporalmente segregados prevendo um último acontecimento que revelaria seus significados. Aqui, a poética de Orides Fontela revela-se em toda a sua crença na historicidade de seu fazer.

Em "Clima", também do livro Alba (1983), tal via de mão dupla da linguagem se faz presente com força, abstração centrífuga, concreção centrípeta, signo, símbolo: linguagem.

Clima

Neste lugar marcado: campo onde
uma árvore única
se alteia

e o alongado
gesto
absorvendo
todo o silêncio - ascende e
.............................imobiliza-se

(som antes da voz
pré-vivo
ou além da voz
e vida)

neste lugar marcado: campo
........................................imoto
segredo cio cisma
o ser
celebra-se

- mudo eucalipto
...elástico
...e elíptico.

É neste livro, Alba, que acredito que Orides Fontela encontrou seu ângulo de equilíbrio. O livro é um ponto luminoso na década de 80 (assim como Asmas, de Ronaldo Brito, publicado em 1982). Poeta contemporânea, poeta do pós-guerra, Orides Fontela sabia escrever poesia com símbolos herdados de uma tradição milenar, mas informados em um mundo que já tivera os escritos de Saussure, Wittgenstein, Jakobson. Orides Fontela sabia que o silêncio não provinha da falta de respostas, mas de nossa incapacidade e limitação no momento de fazer as perguntas através da linguagem, cujos limites são os limites do nosso mundo, nas palavras de Wittgenstein.


Esfinge


Não há perguntas. Selvagem
o silêncio cresce, difícil.


É tentador mitificar a mulher que viveu como viveu e escreveu estes poemas, que mais parecem cubos de energia concentrada, esperando para explodir no olho do leitor. Seus poemas, à primeira vista tão simples, singelos, exigem a concentração e atenção daquele que pode sussurrar, como no poema-exórdio do livro Alba:


A um passo
do pássaro
res
piro.



Sim, a lucidez alucina. Morta em um hospital público em 1998, sem família, indigente como uma poeta, exatos cem anos depois da morte de Cruz e Sousa e o transporte de seu corpo para o Rio de Janeiro em um trem de carga, num vagão para animais, estas duas datas (1898 - 1998) encerram, para mim, o século XX da poesia brasileira.



--- Ricardo Domeneck











sexta-feira, dezembro 04, 2009

Jorge de Sena (1919 - 1978)



IMAGEM PAULO VASCONCELOS

RETIRADO DE MODO DE USAR http://revistamododeusar.blogspot.com/2009/11/jorge-de-sena-1919-1978.html VISITEM!!!!!!!!!!!!!!
Jorge de Sena (1919 - 1978)

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, em 1919. Licenciou-se em engenharia civil, mas dedicou a vida toda à poesia e à crítica. Estreou em 1941, com o volume de poemas Perseguição. O título seria também biograficamente apropriado: em oposição clara à ditadura de António Salazar, é obrigado a deixar Portugal, instalando-se no Brasil em 1958. Outros livros incluemCoroa da Terra (1947), Pedra Filosofal (1950), As Evidências (1955),Fidelidade (1958), Arte de Música (1968), Peregrinatio ad Loca Infecta(1969), Exorcismos (1972) e Conheço o Sal e Outros Poemas (1974).

No Brasil, escreveu o estupendo Metamorfoses, publicando-o no ano em que se naturaliza brasileiro (1963). Em 1965, emigrou para os Estados Unidos, onde faleceu em 1978. Foi um dos intelectuais mais importantes de Portugal no século que se encerrou, e um dos mais competentes poetas, críticos e tradutores da língua luso-brasileira. Apesar de sua passagem pelo Brasil, muito pouco se edita de seus poemas no país, para nosso próprio prejuízo literário.

--- Ricardo Domeneck

§



§

POEMAS DE JORGE DE SENA


Conheço o sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.

§
Camões dirige-se aos seus contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

§

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...