domingo, fevereiro 27, 2011
A COSCA Paulovas
O pião nao entrou na roda, ele fez a roda, rodou e escreveu;
depois pulou na minha mão e fez minha mão ver o ponto, os pontos,
e fez coscas no céu de minha boca da mão escrevendo e desenhando poemas.
terça-feira, fevereiro 08, 2011
Corsino António Fortes (São Vicente, 1933) é um escritor e político cabo-verdiano.
RETIRADO DE ANTONIO MIRANDA CLIQUE NO TÍTULO E VÁ AO ORIGINAL
Corsino António Fortes (São Vicente, 1933) é um escritor e político cabo-verdiano.
É licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa (1966). Integrou vários governos na república de Cabo Verde, país de que foi Embaixador em Portugal. Presidiu à Associação dos Escritores de Cabo Verde (2003/06). Autor de obras como Pão e Fonema (1974) ou Árvore e Tambor (1986), a sua obra expressa uma nova consciência da realidade cabo-verdiana e uma nova leitura da tradição cultural daquele arquipélago.
Pecado Original
Passo pelos dias
E deixo-os negros
Mais negros
Do que a noute brumosa.
Olho para as coisas
E torno-as velhas
Tão velhas
A cair de carunchos.
Só charcos imundos
Atestam no solo
As pegadas do meu pisar
E fica sempre rubro vermelho
Todo o rio por onde me lavo.
E não poder fugir
Não poder fugir nunca
A este destino
De dinamitar rochas
Dentro do peito...
(Claridade, 1960
Girassol
Girassol
Rasga a tua indecisão
E liberta-te.
Vem colar
O teu destino
Ao suspiro
Deste hirto jasmim
Que foge ao vento
Como
Pensamento perdido.
Aderido
Aos teus flancos
Singram navios.
Navios sem mares
Sem rumos
De velas rotas.
Amanheceu!
Orça o teu leme
E entra em mim
Antes que o Sol
Te desoriente
Girassol!
Proposição
Ano a ano
crânio a crânio
Rostos contornam
o olho da ilha
Com poços de pedra
abertos
no olho da cabra
E membros de terra
Explodem
Na boca das ruas
Estátua de pão s6
Estátuas de pão sol
Ano a ano
crânio a crânio
Tambores rompem
a promessa da terra Com pedras
Devolvendo às bocas
As suas veias
De muitos remos
De pé nu sobre o pão da manhã
Desde a manhã os pés
Estão nus ao redor da ilha,
Nus de árvore nus de tambor
Joelhos de sol E volutas de poeira
Nos tornozelos
Em movimento
Desde o início
O tambor dos dedos
Sob o pão das pedras
O cão das artérias
preso
na voragem
Dos calcanhares Que agitam
Na terra polvorenta
o ponteiro dos membros
sobre a testa do mundo
Os membros o mundo o meridiano de permeio
O sarilho dos corvos na falésia
Anuncia-nos
À boca do povoado
Ao vento gordo sabor a fiambre hálito
de pão novo
À beira-mar erguemos as nossas costelas
À promessa pública do mar E
À beira-mar navegamos
Com mãos menos mãos
Com pés menos pés
De proteínas
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
Manuel Rui Monteiro (poeta angolano)
1
De palavras novas também se faz país
neste país tão feito de poemas
que a produção e tudo a semear
terá de ser cantado noutro ciclo.
2
É fértil este tempo de palavras
em busca do poema
que foge na curva das palavras
usadamente soltas e antigas
distantes das verdades dos rios
do quente necessário das brasas
do latejar silencioso das sementes
dentro da terra
quando chove.
3
Proponho um verso novo
para as laranjas (por exemplo) matinais
e os namorados
com que havemos de encher todos os dias
os mercados.
4
Proponho um verso novo
para as guelra do peixe sem contar
para a abundância da carne
e a liberdade das aves desenhada
no amor das escolas
dos campos
e das fábricas.
5
Proponho um verso novo
para o leite obrigatório em cada dia
e a medalha olímpica
que o riso das crianças já promete.
6
Proponho um verso novo
para o milho a mandioca suculenta
o amadurecido cacho de dendém
alegre na fartura dos dedos
e das bocas.
7
Produzir na palavra
É semear e colher
É cumprir na escrita
A produção.
8
Produzir na palavra
É cantar no poema
Todas as raízes
Deste chão.
Manuel Rui Monteiro (poeta angolano)
In 11 Poemas em Novembro, Luanda, Ed. Lavra e Oficina, 1976
FILOSOFIA ASCENSO FERREIRA - PE
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