quarta-feira, julho 20, 2011

O CHEIRO DE TUA .. AVANIO AVELOS PB






















A manhã é curta
e o dia dispara
para eu sentar outra vez e sentir o cheiro de tua voz

Engaieime AVANIO AVELOS PB





















Engaieime no amor
troci a língua
e fiquei sem fala.
jurei a santa,
mai a dor piorou,
engaiei-me de veis e amarelei-me no relento da sordade,
as asas do meu sonho quebrouse de veis

Leslie Kaplan APUD MODO DE USAR

Leslie Kaplan nasceu em Nova Iorque em 1943 e é uma poeta francesa. Vive na França desde os três anos, é psicanalista e seu trabalho com a língua põe em jogo muitas vezes sua condição bilíngue, como neste poema reproduzido aqui sobre o beijo entre as duas línguas: translating is sexy, ela diz, buscando o ponto em que as duas línguas se encontram lá no fundo da boca – a poesia, talvez? Seu primeiro livro, L’Excès-l'usine, foi publicado em 1982. No Brasil, saiu o belíssimo romance O psicanalista, pela Companhia das letras, terceiro volume da série Depuis maintenant, que conta a história de Eva, personagem que consegue, lendo e pensando nos romances de Kafka, “dar um pulo para fora da fila dos assassinos” de sua própria vida. Leslie Kaplan publica pela P.O.L. Éditeur e seu último romance, Minha América começa na Polônia, constitui um relato autobiográfico que conta a história de sua família e a sua própria – os avós poloneses, imigrantes judeus nos Estados Unidos no começo do século XX, e os pais, americanos, que foram para a Europa durante a segunda guerra e se estabeleceram na França do pós-guerra. O romance conta suas idas e vindas sobre o Atlântico, coadunando na linguagem chewing-gum e ice-creams americanos com cafés e boulevards franceses.


--- Marília Garcia


§


POEMA DE LESLIE KAPLAN
em tradução de Marília Garcia


Translating is sexy

a poesia é um beijo
entre duas línguas
a french kiss
ou
um beijo americano

buscar o ponto
em que as duas línguas se encontram
lá no fundo
da boca
ou então na superfície
a ponta da língua
contra a ponta da outra língua
how do you say that in english?
I love you
that’s all
and
hold me tight
and
give it another try
baby


qual é o ponto de encontro
the meeting point
mas aí a gente pensa em carne
I can’t meet you here
dear meat

let’s play
a game
sim, vamos jogar um pouco

translating
is sexy

I know that

então

a boca the mouth
a língua the tongue

descreva a sensação
ooh ooh ooh
descreva de verdade

the tip of my tongue
dear love
will touch yours
dear love
and we will sing
dear love
together

the tip
of my tongue
will touch
yours

we won’t sing
my love
we will breath
my love in silence

we won’t sing
we will breath
in silence

we will live
and touch
slowly

does the tongue
have a skin?
the soft skin
of the tongue
will rape me
not rape
wrap
not wrap

uma língua doce
um pouco
rugosa

e não vamos falar
da saliva
essa substância mole
e doce
na boca

podemos trocá-la

ou talvez
ela troca você
como uma velha ponte mole

dilui-se dentro dela
ela faz você passar
é uma língua uma saliva uma velha ponte mole
ela leva você
ela faz você passar

but say it again
the soft skin of the tongue

some thing soft
and pointed

how is that possible

it is

say it
and do it

you do it to me
I’ll do it to you
again
and again
till silence
how is silence possible
the soft skin of silence

it is

soft silence
pointed silence

can silence be a bridge?
it can
it is

and here we are
welcome

little word
little word

diga-me uma palavra
só uma palavra

she didn’t like men with poney tails
ela não gostava de homens com rabos de
cavalo


cortes
nuances
atenção

I told you

about translating

give me
one word
just one word
that would open up
open up
explode
and multiply

sim
vamos lá
acabe comigo

a word
uma palavra

a word from you
my love
breaks me up
my love
and makes its way

my love
far inside me

sim
mas sim

she always gave him
a lot of trouble
era
uma chata

shut up
stupid
me beija
estúpido
there was this awful american
woman
who would say
she wanted to have sex

é nojento

é mesmo

but they do
they say that

those terrible
american woman

essas
mulheres
americanas
horríveis

oh
oh

Mas o céu, e essas estrias. Nada nos protege de sua beleza. Todo querer. O céu, o vinho, os livros, o amor. E o pensamento. Se não temos o pensamento, não temos nada. Nada de sua vida. Nada. Mas o pensamento, não o temos. Pensamos ele.

all the words

from all the times
from all the lives
you have lived
and will live

todas as palavras estão aí
disponíveis
elas esperam
all the words
and all the worlds
from all the lives
and all the lovers
cada palavra
está ali
não amanhã
hoje
AGORA


§


A quem quiser conhecer a voz da poeta, no vídeo abaixo ela oraliza seu poema "Les Outils":


















sábado, julho 02, 2011

O corpo ler ... Abadeu Caja.... Catolé do Rocha. PB

























Quando eu era pequeno
eu lia com as mãos,
pegava largatixa, formiga,chave velha enterrada,
folhas, pingo de chuva,as nuvens das paineiras,
os pelos dos gatos, do carneiro, as penas das galinhas
eu aprendia com todo o corpo,
hoje fecharam as mãos para o mundo e se aprende só com as letras.

MALEITA ENOBE COSSO PB

















Troci a maleita
apiorei
cai nar mão da doensa
e ela fechou os dedo.

Corsino António Fortes (São Vicente, 1933) cabo-verdiano.




















Corsino António Fortes (São Vicente, 1933) é um escritor e político cabo-verdiano.
É licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa (1966). Integrou vários governos na república de Cabo Verde, país de que foi Embaixador em Portugal. Presidiu à Associação dos Escritores de Cabo Verde (2003/06). Autor de obras como Pão e Fonema (1974) ou Árvore e Tambor (1986), a sua obra expressa uma nova consciência da realidade cabo-verdiana e uma nova leitura da tradição cultural daquele arquipélago.
Retirado de Antonio MIranda


De pé nu sobre o pão da manhã

Desde a manhã os pés
Estão nus ao redor da ilha,
Nus de árvore nus de tambor
Joelhos de sol E volutas de poeira
Nos tornozelos
Em movimento

Desde o início
O tambor dos dedos
Sob o pão das pedras
O cão das artérias
preso
na voragem
Dos calcanhares Que agitam
Na terra polvorenta
o ponteiro dos membros
sobre a testa do mundo

Os membros o mundo o meridiano de permeio

O sarilho dos corvos na falésia
Anuncia-nos

À boca do povoado
Ao vento gordo sabor a fiambre hálito
de pão novo

À beira-mar erguemos as nossas costelas
À promessa pública do mar E
À beira-mar navegamos
Com mãos menos mãos
Com pés menos pés
De proteínas

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...