sexta-feira, setembro 20, 2013

Samarone Lima CE

Saio à procura de memórias, palavras, Murmúrios. Encontro apenas escadas, corredores, Maçanetas geladas De lugares que nunca vi. De nada adianta Esta busca frenética: Tudo está no subsolo. O esquecimento passa, arando. O esquecimento anda com uma sacola Cheia de outras sementes (é aleatório em seus costumes. Ama e esquece. Ama e malquer. Não ama e diz Amor). Melhor não buscar, Samarone. Aquieta-te. Amordaça teu desejo de alcançar O que já nem sombra é. Nunca foi. Deixa a memória adormeça. Que se proteja Como as vítimas do frio Apenas se tocando Em gestos impulsivos Em silêncio. Apenas se tocando Se aquecendo. Apenas morrendo.

sábado, julho 06, 2013

Katia Borges

Minha avó era cega. Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos. E a paixão por uns sambas antigos. Partido alto, dona Ivone Lara. Minha avó era alta. Os cabelos muito lisos e compridos envolviam a cintura. Eram penteados com cuidado, todas as tardes, e presos em um coque. Os vestidos, de tecido barato, quase cobriam os pés. Minha avó contava histórias de assombrar, ensinava a amar certas canções e fazia predições todo final de ano. Eu fugia com medo do futuro, e me escondia no quarto. O presente me bastava com seus fantasmas e as notícias do mundo no Fantástico. Minha avó gostava de beber aperitivos, de mascar fumo e de me ouvir cantar uma música de um português chamado Hermes Aquino. Poucos se lembram dele. Poucos se lembram dela. Poucos se lembrarão de mim. Minha avó era cega. Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos Katia Borges Salvador

sábado, junho 22, 2013

O tempo Paulovas

Meu pai tinha razão os marcadores- do tempo- não são de papel, pena ou pétalas, são tua pele na tua tessitura desvalida

Palavra Muda Paulovas

A palavra é inerte não ouve nao vê cega como surdos e mudos, longínqua e desvalida. Os assoletrantes, como disse a poeta, são crueldade
O Poema I Esclarecendo que o poema é um duelo agudíssimo quero eu dizer um dedo agudíssimo claro apontado ao coração do homem falo com uma agulha de sangue a coser-me todo o corpo à garganta e a esta terra imóvel onde já a minha sombra é um traço de alarme II Piso do poema chão de areia Digo na maneira mais crua e mais intensa de medir o poema pela medida inteira o poema em milímetro de madeira ou apodrece o poema ou se alteia ou se despedaça a mão ateia ou cinco seis astros se percorre antes que o deserto mate a fome ................................................................................................. Luiza Neto Jorge Terra Imóvel Poesia organização e prefácio de Fernando Cabral Martins Assírio & Alvim 2ª edição 2001
A Casa do Mundo Aquilo que às vezes parece um sinal no rosto é a casa do mundo é um armário poderoso com tecidos sanguíneos guardados e a sua tribo de portas sensíveis. Cheira a teias eróticas. Arca delirante arca sobre o cheiro a mar de amar. Mar fresco. Muros romanos. Toda a música. O corredor lembra uma corda suspensa entre os Pirinéus, as janelas entre faces gregas. Janelas que cheiram ao ar de fora à núpcia do ar com a casa ardente. Luzindo cheguei à porta. Interrompo os objetos de família, atiro-lhes a porta. Acendo os interruptores, acendo a interrupção, as novas paisagens têm cabeça, a luz é uma pintura clara, mais claramente lembro: uma porta, um armário, aquela casa. Um espelho verde de face oval é que parece uma lata de conservas dilatada com um tubarão a revirar-se no estômago no fígado, nos rins, nos tecidos sangúíneos. É a casa do mundo: desaparece em seguida. Luiza Neto Jorge O seu a seu tempo Poesia organização e prefácio de Fernando Cabral Martins Assírio & Alvim 2ª edição 2001

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Salmos de Maria Antulia Joao Pires PT

Bendita seja a loucura de tua sanidade simulacrada Contra a minha de sistemas não alforriados A tua insanidade sã nao tem vísceras e sistemas, maldita seja a santa que te ajoelhou e te fez perder O que se entrega de olhos abertos, nao vedes ,tendes próteses de chumbo Escraxada seja a tua prisão que criaste para abduzir-te ao nada e folheada em folhas de papeis usados gastos e desditos. Eu sou o que fala por soscorro do nada, Do alferes que me deteve em te pegar Chuto as ruas meus pedaços como se fora restos de um todo branco sendo negro e encarnado. Nao te possuo porque nem a mim me guardo, sou atoa Como os restos de cigarros que cato as ruas para sobejar bocas Necessito, careço de tudo e nao sei do que é mais alvo Minha sina é ser este molho de esterco preso numa escuridão que se nao se repara, senão a velha morta estrangulada pelo cachorro em cólera. Arrasto-me como arresto de papéis higienicos duros Na descida de um beco sem saida ou numa cápusla surda que cai Sou a nascente que nao vinga, sou pele em desalinho em desgaste mastigada por antípodas de frescor solene da seta do certo e eu sob nenhuma encruzilhada senão sob mim mesmo, corrente de vento sem umidade Sou a mentira impudente, de um juizo de desaforos e de panelas ao leo Deixo-te nada como nada ao quadrado és tu Mas , desalinho minhas linhas de cabelos últimos e jogo-me no poço das panelas de ferro mais típias e cozidas nas águas que molharam o desconforto teu e a negaçao minha. Nao deixo nada senao ésse foço de ser tua e tu meu,mas nada vale, e bendito seja o nenhum nada como os salmos de Maria . Antulia João Pires- Portugal

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

digresso paulovas

Sob teu rosto aplainado de mármores brancos inventaste a viuvez de quem dorme, Pitangas te dão sombras e frutos e caem inchadas, maduras sobre teu olhos imunes das pedras, assim caroços germinam e assim mesmo não acordas. Mas diante do flácido de tua carne sobre teu tronco cavalgo com tetas duras de passadas largas.

sonata 1 paulovas

Enviuvei de certas palavras,mas não enterrei seus corpos, os pássaros os bicam e fica um cheiro a subir ausente

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

CAJU AZUL

Sobre o azul do caju,traçam-se talheres de prata, e resmungam a mangas pretas ao lado.. Sururus, pitus, e pargos brotam no mar como sargaçais medrados. Sob a torrente de areias no mar de Sergipe ,nascem colônias de fabulas desditas Não,só depois de amanha todos os frutos estarão maduros e eu sobrio a desdizer mitos. Num sol ameno e sem dentes.

A boca das Araras acajuadas

Sob teus fossos esparramam lama como prata queimada, sob tua lama o mar resmunga em seus fatos, e intestinos, sob tuas águas de sal douram aves que migram chamadas pelos cheiro de alecrins e cajus, em teu sol chuleio o doce do teu sal pregado ao teu povo, em pele de coqueirais. Com meus olhos costuro a fotografia de tua boca sergipana

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Wislawa Szymborska A ALEGRIA DA ESCRITA Para onde corre essa corça escrita pelo bosque escrito? Vai beber da água escrita. que lhe copia o focinho como papel-carbono? Por que ergue a cabeça, será que ouve algo? Apoiada sobre as quatro patas emprestadas da verdade sob meus dedos apura o ouvido. Silêncio – também essa palavra ressoa pelo papel e afasta os ramos que a palavra “bosque” originou. Na folha branca se aprontam para o salto as letras que podem se alojar mal as frases acossantes, perante as quais não haverá saída. Numa gota de tinta há um bom estoque de caçadores de olho semicerrado prontos a correr pena abaixo, rodear a corça, preparar o tiro. Esquecem-se de que isso não é a vida. Outras leis, preto no branco aqui vigoram. Um pestanejar vai durar quanto eu quiser, e se deixar dividir em pequenas eternidades cheias de balas suspensas no voo Para sempre se eu assim dispuser nada aqui acontece Sem meu querer nem uma folha cai nem um caniço se curva sob o ponto final de um casco. Existe então um mundo assim sobre o qual exerço um destino independente? Um tempo que enlaço com correntes de signos? Uma existência perene por meu comando? A alegria da escrita. O poder de preservar A vingança da mão mortal. Postado em Literatura, por Roberto Kenard Assuntos: Companhia da Letras, Prêmio Nobel, Wislawa Szymborska

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

A CERZIDEIRA DO ZELO ...Para Amélia Catão

Faltará algodão e a tessitura de tuas mãos a catá-los Haverá macaxeiras soltas sem teu sal. Ocorrerá silêncios, para celebrar tua paz que levastes. Não celebrarei tua ida, mas teu perfume que fica na casa no piso, no riso. Ficará teu cheiro de mulher, mãe,vó,tia e sobretudo a cerzideira da perfeição em teus artefatos. Deixas, o silêncio irônico de tuas mãos, que na verdade era zelo.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Hilda Hilst

Se te pareço noturna e imperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses E era como se a água Desejasse... Hilda Hilst

Sou teu...líquido e barrento Pedro Acuero Beja PB

Eu não conclui tua espera vou ao barreiro e canto as águas para que apareças no soslaio do barro que vem a cuia com a água. Sou barrento mesmo, e deito meus olhos sobre teu liquido e oblitero a espera. Sou teu...líquido e barrento

Um corpo quer outro corpo.

Um corpo quer outro corpo. Uma alma quer outra alma e seu corpo. Este excesso de realidade me confunde. Jonathan falando: parece que estou num filme. Se eu lhe dissesse você é estúpido ele diria sou mesmo. Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear eu iria. As casas baixas, as pessoas pobres, e o sol da tarde, imaginai o que era o sol da tarde sobre a nossa fragilidade. Vinha com Jonathan pela rua mais torta da cidade. O Caminho do Céu. Adélia Prado

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...