Não o SonhoTalvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
OBS
Em menos de meia hora o júri chegou a uma decisão consensual: Manuel António Pina é o vencedor do Prémio Camões 2011. Apesar de tão óbvia, a decisão apanhou o escritor desprevenido. "Foi a coisa mais inesperada que eu poderia esperar. Nem sabia que o júri estava reunido, nem que o prémio ia ser atribuído hoje. Portanto, fiquei absolutamente surpreendido", disse ontem à Lusa. O júri distinguiu a obra de Pina pela sua "inventividade e a originalidade". "Sinto-me um bocado embaraçado, atendendo à qualidade das pessoas, ao Panteão a quem já foi atribuído anteriormente o prémio", disse o escritor.
Com 67 anos, o jornalista do Sabugal, licenciado em direito, dividiu-se por várias áreas da literatura. O homem dos quatro ofícios: poesia, teatro, literatura infantil e ficção.
Em 1973 editava o seu primeiro livro: "O País das Pessoas de Pernas para o Ar". Como o título indica trata-se de um livro infantil que explora um lado mais surreal e humorístico, como no conto do menino Jesus não queria ser Deus. A sua obra infantil rompeu com a tradição e já faz parte dela, ao ser incluído no Plano Nacional da Leitura. Em 1974, Manuel António Pinta lançava-se na poesia com "Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde". "Acaba por ser também um prémio dado à poesia, que faz todo o sentido, porque continuamos a ser um país de grandíssimos valores nessa área e com um reconhecimento que é sempre justo e positivo", afirmou José Luís Peixoto à Lusa. Mário Cláudio concorda e defende que premiar a poesia é importante, pois tem estado mais esquecida.
Manuel António Pina ainda escreveu para teatro, sendo "História do sábio fechado na sua biblioteca", a sua última peça. O nome do escritor está associado à história do jornalismo. "Inovou muito no jornalismo português. Deu alma às notícias, com uma abordagem mais poética, mais livre", defendeu o historiador Germano Silva.
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