sexta-feira, agosto 01, 2008

MORRE UMA GRANDE POETISA BRASILEIRA


Na última quarta-feira, faleceu, na cidade do Recife, a escritora Maria do Carmo Barreto Campello de Melo.

Vítima de um AVC hemorrágico, estava internada desde o último dia 14 e havia completado 84 anos recentemente.

Maria do Carmo, ou simplesmente Carminha, como costumava ser tratada, nasceu no Recife em 21 de julho de 1924. Foi escritora, jornalista, formou-se em Letras, ocupou cargos ligados à educação e à cultura, foi membro de instituições literárias, entre elas a Academia Pernambucana de Letras - APL, a Academia de Artes e Letras do Nordeste, da qual era acadêmica emérita, e a União Brasileira de Escritores - UBE-PE.

Publicou doze livros de poesia: Música do Silêncio - 1º Momento: Os Símbolos; 2º Momento: Os Sobreviventes (1968); Música do Silêncio - 3º Momento: Ciclo da Solidão (1971);
Música do Silêncio - 4º Momento: O Tempo Reinventado (1972);
VerdeVida: O Tempo Simultâneo; Música do Silêncio - 5º Momento: As Circunstâncias (1976); Ser em Trânsito (1979); Miradouro (1982);
Partitura Sem Som (1983); De Adeus e Borboletas (1985); Retrato Abstrato (1990); Solidão Compartilhada (1994); Visitação da Vida (2000); e A Consoada (2003).

Carminha desenhou um rastro indelével de palavras por onde circulou. Nela, a poetisa e a mulher estavam inextrincavelmente misturadas. Teve uma dedicação praticamente integral à literatura e à vida cultural.

Participava de quase tudo que acontecia nos meios literários do Recife. Eram palestras, lançamentos de livros, encontros, congressos, comissões de prêmios literários. Quando o fazia, não atuava de forma acomodada, que o tempo e o prestígio poderiam lhe proporcionar. Tinha sempre um papel verdadeiramente ativo. Nunca se colocou em posição destacada que a afastasse do labor e do prazer do contato com as pessoas.

Recentemente, havia participado do Projeto Arte e Vida, como coordenadora de literatura. O objetivo da iniciativa era tirar crianças e adolescentes da convivência com a violência e o tráfico de drogas em favelas da cidade.

Como pessoa, era uma mulher serena e intensa. Como escritora, é uma das mais importantes da literatura contemporânea de Pernambuco. A família busca, agora, apoio para publicar suas obras completas, por meio do Funcultura, fundo estadual de cultura de Pernambuco.

Confiram o poema Lição de Amor, do livro Solidão Compartilhada. Para ler mais, clique aqui

NOTA: Conheci Carminha em 1995, quando coordenamos o I Congresso Nacional dos Escritores em Pernambuco, promovido pela União Brasileira de Escritores – Secção Pernambuco – UBE-PE, à época sob a presidência do Escritor Flávio Chaves.
O evento foi realizado no período de 15 a 17 de novembro e contou com palestras de Nélida Piñon, Ariano Suassuna, José Castelo, João Silvério Trevisan, Domingos Carvalho da Silva e Bruno Tolentino, entre outros.
Ela fez o prefácio de meu segundo livro, A Pulsação Repleta, lançado pela Fundarpe/Cepe. Lá estava, “poesia contida, despojada, limpa como o linho, sem excessos nem acessórios”.
Foram as palavras mais bonitas que eu já havia ouvido sobre a minha poesia.
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para lembrar


Maria do Carmo Barreto Campello de Melo



Lição de Amor




Não te direi de amor

assim como tu queres

pois não se faz o amor, amor existe

e permeia e transcende coração e mente

e dá se dando e dando inteiramente

que despojado é o amor, sem adereços

e a pele é a melhor das vestimentas.





Não te direi

assim como o entendes

mas se eu disser de mim, direi do amor

que há quem não se dando já deu tudo

e visitou a face do teu ser impuro

e adormeceu à sombra dos teus sonhos.





Não

assim como desejas

só que me entrego à noite e ao desespero

e ferida de amor digo teu nome

e ele me cobre como uma vestidura.




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