sexta-feira, dezembro 27, 2019

Natália Correia nas palavras de Fernando Dacosta



Natália de Oliveira Correia GOSE • GOL (Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993) foi uma escritora e poetisa portuguesa, nascida no arquipélago dos Açores. ... A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio.

segunda-feira, dezembro 09, 2019

Amar- Marília Pêra (Carlos Drummond de Andrade)


AMAR
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o amar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
https://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/sliit02_110-112.html

quarta-feira, dezembro 04, 2019

A literatura boliviana como explosão no mundo Latino.



A integração latino-americana está longe de ser realizada nos ideais de Simon 
Bolivar, assim, se na economia estamos a passos lerdos, tampouco na literatura estamos unidos e não dialogamos, especialmente no Brasil. A Fliporto tentou mas não foi longe, dilacerou-se no seu caminho de luzes gerais para o internacional como todo ocidental, lhe dar mais flashes. Todavia, o mundo editorial- e do jornalismo literário argentino, sempre busca essa façanha de integração  e isso vem de anos. Lê-se muito no país argentino e pela facilidade da língua hispânica, a literatura dos seu vizinhos de mesma língua, circula melhor.

A última edição da Revista Ñ-grupo Clarin traz matéria interessante sobre a literatura  boliviana assinada por Edmundo Paz Soldán .Nascido em Cochabamba, na Bolívia, em 1967. Doutor em literatura hispânica pela Universidade de Berkeley e professor de literatura latino-americana na Universidade Cornell.Aqui no Brasil duas obras suas traduzidas O Norte -2011e O delirio de Thuring 2003.

O Artigo da Revista El Clarin, Revista Ñ, Literatura boliviana: una irreverente solenidade…(http://clar.in/1pAiGQk.)inicia com a reverência e referência de dois grandes autores Jaime Saenz y Jesús Urzagasti. Saenz (1921-1986)O primeiro é destaque na poesia latinoamericana do sec XX; por sua vez Jesús Urzagasti (1941-2013), nascido em Chaco boliviano. Ele é um ficionista e poeta, Urzagasti , traz em sua poética as relações e continuidades entre a vida e a morte em que figuras malignas tem seu espaço,face ao imaginário humano . Isto vamos encontrar na sua obra destacada, De la ventana al parque (1992).

A seguir, Soldan grifa  a posição dos críticos que apontam a obra  que dá início a contemporaneidade da literatura boliviana através da obra: Jonás y la ballena rosada (1987) de Wolfango Montes (1951), de Santa Cruz de la Sierra e hoje radicado  aqui, no Brasil , onde também atua na medicina como psiquiatra.

Em contiuidade, Soldan aponta uma outra obra De cuando en cuando Saturnina (2004) de Alison Spedding (1962), escritora e antropóloga inglesa -1962, que após publicar suas obras em inglés mudou-se para Bolivia em 1989 e agregou-se ao idioma espanico. Esta obra tem na ficção um olhar feminista e indigenista, tendo um aporte forte na exploração lingüística- entre o ingles e aymara, da nação  indígena, é considerada por alguns críticos -destacada ficionista boliviana contemporanea.

Por fimo articulista aponta para o nova geração de escritores das décadas de setenta e oitenta e que vem colocando a Bolivia dentro de um destaque da literatura latinoamericana. Destaca-se entre outros,  Giovanna Rivero (1972), Wilmer Urrelo (1975), Christian Vera (1977), Fabiola Morales (1978), Maximiliano Barrientos (1979), Juan Pablo Piñeiro (1979) Rodrigo Hasbún (1981), Liliana Colanzi (1981) y Sebastián Antezana (1982).

Outro destaque do articulista é a confluência do mundo rural e urbano o que vem a enriquecer essa literatura tornando-a mais viva e um retrato mais verdadeiro dos tempos contemporaneous.

Não atoa a III FILBA- Feira Internacional de Literatura de  Buenos Aires

2014, teve inúmeros autores bolivianos convidados, só ultrapassado pelos latinos  uruguaios 

Homenaje a Jesús Urzagasti

DOCUMENTAL JAIME SAENZ ABYA YALA CULTURAS 16 DE AGOSTO DE 2018

segunda-feira, dezembro 02, 2019

O rumo do rio é reza" de Thiago Calçado

Thiago Calçado por Gramho.com



Dr. Aldo Ambrózio fala no Facebook:

Um deleite desfrutar da poesia do amigo Thiago Calçado no período de descanso após o almoço!
Recomendo o livro "O rumo do rio é reza" a todos cujos espíritos ainda não foram embrutecidos, seja pela peleja diária nestes tempos de atrito contínuo, seja pelas tristezas da alma que, às vezes, nos esmagam e nos separam do encontro com o outro e a vida!
Fica, de brinde, um dos poemas deste livro sofisticado e sensível que faz lembrar um outro poeta, no caso, Manoel de Barros, que também tinha uma certa intimidade com as coisas que ainda não foram amarradas e amordaçadas pelos conceitos:
O Rasgo do Rio
Aprendi com o matuto:
O rio tem duas bandas
E um rasgo no meio.
De um lado é lá.
Do outro, cá.
O fundo a gente nunca sabe onde tá.
Sabe só que onde não dá pé dá peixe.
Nadar é verbo de quem deixa de fazer coisas
Pra ser todinho travessia.

**** Breve Resenha do seu último Livro aqui

sexta-feira, outubro 25, 2019

RETRATO FALADO DO POETA -SELMA VASCONCELOS

Foto Divulgação - arquivo da autora

Selma Vasconcelos - arquivo da autora




UMA OBRA SE FAZ ATEMPORAL



O livro João Cabral de Melo Neto-Retrato falado do Poeta, da escritora Selma Vasconcelos, coincidentemente é lembrado ao vinte anos da morte do poeta. 

A obra Retrato Falado do Poeta, lançada em 2009, - Edições CEPE, Recife, PE, traz uma face do poeta através de depoimentos colhidos pela autora entre os amigos, intelectuais e familiares de Joao Cabral, e no final, as considerações da autora acerca do retrato que conseguiu desenhar e a torna uma expert na vida e obra do pernambucano. 

A obra está dividida em três capítulos: o poeta por familiares e amigos-; o poeta por intelectuais contemporâneos ; o Poeta por ele mesmo; epílogo a morte da poesia.Entre os familiares há que se destacar a filha - Inez Cabral de Melo e a irmã do poeta Maria de Lourdes Cabral de Melo Neto ,residente em Recife.Entre os Intelectuais figuram Ledo Ivo, Antônio Carlos Seccchin, Armando Freitas filho, Ferreira Gullar e Antônio Cândido.
No terceiro capítulo a autora faz uma especie de critica genética do poeta pelos veios de sua história de vida; sai à cata de sua ancestralidade desde o século XVIII e expõe suas considerações como uma expert no tema. 

O que na verdade observo é que a obra busca desenhar a face do homem com suas peculiaridades além de tentar dissecar a construção de sua subjetividade expressa pelos laços familiares e experiências de vida. 


Chama-me atenção, e isto vejo como raridade, nos apontamentos que a autora nos mostra, um João Cabral pluri-epistêmcio quando destaca a habilidade antropológica dele em desenhar nós brasileiros e, sobretudo, o nordestino dentro de uma geografia ambiental da seca ao mangue, passando pelas regiões intermedias como a zona da mata pernambucana e finalmente a zona litorânea, onde o poeta construiu vários poemas acerca do mar numa lírica é de uma importância semiológica intensa. Aliás a terra , os tipo humanos e a seca o puxa para cenários poéticos enquanto  a questão aquática se sublinha no desenho dos rios e dos mares. Joao Cabral mostra poeticamente a conversa entre os rios e o mar e seus habitantes da liquidez aquática e os homens ribeirinhos. Mas o poeta é um tecelão da figura humana nos seus devaneios que são abrangentes como aqueles em que mira a Espanha e seus habitantes.


Tivemos uma pequena conversa com a autora em que a deixei a vontade para falar dando apenas o mote dos dez anos da Obra-João Cabral de Melo Neto Retrato falado. Aproveitei para inserir também que a menção a retrato, não deixa de denunciar de modo correto, o retrato, ou o campo visual tão presente na construção da lírica do poeta, diga-se de passagem , suas relações com os artistas plásticos e entre eles Miró,na Espanha , precisamente na Catalunha e Andaluzia onde o poeta viveu por doze anos.Inclusive a autora informa ter refeito o percurso do poeta naquelas cidades espanholas e por isso fala muito a vontade sobre as semelhanças entre o Capibaribe e o Gaudalquivir que atravessa Sevilha.



Diz a autora:” Falar da própria obra pode parecer fácil, mas não o é. Foi extensa a caminhada,viajei, fiz seus percursos no Brasil e fora do do pais,na Espanha ,para sentir a paisagem , as arenas de touros, as dançarinas de flamenco, figuras com as quais ele conviveu. Isto me auxiliou a entender o fato do poeta ter eleito a Espanha como segunda pátria afetiva . 

Importante, e uma visão pouco conhecida, pode-se observar a partir da fala dos familiares; apesar dos estereótipos criados em torno do homem João Cabral,a terra e a familia são sentimentos fortes e inseparáveis em sua memoria sentimental.¨

Quanto ao aniversário da obra Selma enfatiza o fato do livro ter dez anos de publicado, argumento desarrazoado, pois sua obra foi escrita através de depoimentos de contemporâneos do poeta, inclusive vários do escritores colaboradores faleceram recentemente como Antonio Cândido Ledo Ivo e Ferreira Gullar. Portanto ,esta é uma obra memorialista e atemporal.


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sexta-feira, outubro 18, 2019

ALICIA ALONSO SU VUELO EN LA MUERTE VIVA



ALICIA SU VUELO ES NUESTRO VUELO CAMINAR A LA LIBERTAD,
PERO SU PERFUME DE VALOR Y PERSISTENCIA ESTARA CON NOSOTROS SIEMPRE. DESDE BRASIL PAULO VASCONCELOS
E NOSOSTRO A CA -DESDE BRASIL -QUE SOMOS TU E NUESTRA CUBA

sábado, outubro 12, 2019

João Cabral de Melo Neto- vinte anos da morte POR SERGIO C PINTO

LITERATURA
J. Cabral de M.Neto   (Recife, 9 de janeiro de 1920 — RJ, 9 de outubro de 1999) Foto por Bienal Pernambuco

Gravura de Joan Miró para o livro de João Cabral de Melo Neto Foto: Divulgação / Agência O GLOBO

   " Poema é coisa de ver,/ é coisa sobre um espaço,/ como se vê um Franz Weissman,/ como se ouve um quadro"
Quando um poeta fala do outro escorre algo a mais  ou a menos,quero dizer : por se saber que no ofício de poetar quão  difícil é tecer a conjunção dos signos,quão perigoso é querer traduzir o sentido,pensado para o verso-entenda-se aqui verso- a criação- ou para qualquer linguagem,è malabarismo criador,sim.Sergio Castro Pinto cumpriu o desafio em falar da ausência de João Cabral e adentrou nas tessituras estéticas  de Cabral-   suas incursões visuais/plásticas,como as que figuram com  as do espanhol Juan Miró.Ao mesmo tempo relatou-nos,como para muitos é sabido a ligação intersemiótica entre a estética Cabralina e do artista catalão..Os dois eram amigos, os dois ousaram dizer a forma, o visíve/invisívell e ou dizível/indizível.Cabral escreveu ou tentou dizer Miró.
Sergio  valeu-se deste adentramento visual de Cabral e assinalou algo que é muito cotejado inutilmente acerca do poeta ,e diz Castro Pinto: ¨Ouso afirmar que, embora a crítica o considere um antilírico por natureza, ele possui, contraditoriamente, uma das características primordiais do poeta lírico: é incapaz de se "outrar", como diria Vitor Manuel de Aguiar e Silva¨
Paulo Vasconcelos
Vamos ao texto do Sergio:

VINTE ANOS SEM E COM JOÃO CABRAL*
(Apontamentos)
Sérgio de Castro Pinto**
Sergio C.Pinto Paraíba Criativa

A poesia de João Cabral de Melo Neto é tributária dos artistas plásticos aos quais louvou em poemas quase todos de extração metalinguística, questionando não só a linguagem pictórica dos artistas como também a sua própria concepção da fenomenologia poética.
Com efeito, no ensaio sobre Jon Miró, ele não discorre apenas sobre os mecanismos de criação desse artista natural da Catalunha, mas também a propósito da elaboração dos poemas de sua própria lavra. Aliás, mais do que sobre Miró, esse ensaio trata a respeito do construto poético do autor pernambucano, do mesmo modo que, quando fala sobre a morte dos outros, fala sobre a sua própria morte. Aqui, vale registrar um episódio narrado pelo autor de "Educação pela pedra": "Levei-lhe (ao psicanalista espanhol López Ibor) o volume 'Duas águas' que ele leu e comentou dizendo: 'O que me impressiona é a sua obsessão pela morte'. Eu retorqui: A morte de que eu falo não é a rilkeana, é a morte social, do miserável na seca, no mangue, não é a minha. E ele disse-me uma coisa engraçada: 'Aí é que o senhor se engana: o senhor fala em morte social para exorcizar o seu medo da morte'", E concluiu João Cabral: "Realmente tenho muito medo da morte".
Julgando-se um poeta impessoal, antilírico por excelência, um poeta que escrevia a contrapelo, João Cabral cultivava uma poesia cujo solipsismo era atenuado, disfarçado, na medida em que, aparentemente falando sobre os outros, falava a respeito de si mesmo, Que o digam, no plano da linguagem, os poemas através dos quais dialoga com Cesário Verde, Graciiano Ramos, Quevedo, Francis Ponge, Valéry, Mondrian, Le Corbusier...
Inclusive, até mesmo no simples, prosaico, cotidiano gesto de catar feijão, Cabral estabelece um cotejo, uma analogia, com o seu modo de escrever. Também no desempenho de alguns toureiros na arena, ele encontra similitude com a sua arte poética: "(...) sim, eu vi Manoel Rodriguez,/ Monolete, o mais asceta,/ não só cultivar sua flor/ mas demonstrar aos poetas: // como domar a explosão/ com mão serena e contida./ sem deixar que se derrame/ a flor que traz escondida,// e como, então, trabalhá-la/ com mão certa, pouco e extrema: / sem perfumar sua flor,/ sem poetizar seu poema".
Ouso afirmar que, embora a crítica o considere um antilírico por natureza, ele possui, contraditoriamente, uma das características primordiais do poeta lírico: é incapaz de se "outrar", como diria Vitor Manuel de Aguiar e Silva.
Mas a prova maior da interferência do olhar, do visual, na sua dicção poética - não tivesse, ainda, o movimento Concretista se abeberado de sua poesia -, pode ser mensurada a partir daquele que muitos consideram o seu último poema, concebido quando já estava praticamente cego: "Pedem-me um poema, / um poema que seja inédito,/ poema é coisa que se faz vendo,/ como imaginar Picasso cego?// Um poema se faz vendo,/ um poema se faz para a vista,/ como fazer um poema ditado/ sem vê-lo inscrita?// Poema é composição,/ mesmo da coisa vivida,/ um poema é o que se arruma/ dentro da desarrumada vida.// Por exemplo, é como um rio,/ por exemplo o Capibaribe, / em suas margens domado/ para chegar ao Recife. // Onde com o Beberibe,/ o Tejipió, Jaboatão,/ para fazer o Atlântico,/ todos se juntam a mão. // Poema é coisa de ver,/ é coisa sobre um espaço,/ como se vê um Franz Weissman,/ como se ouve um quadro",



*Hoje, dia 09 de outubro, exatamente vinte anos da morte de João Cabral de Melo Neto


** 
Sergio C.Pinto
Poeta e professor de Literatura Brasileira UFPB, ora aposentado, com obras de poesia, além dos ensaios.Está presente em  antologias poéticas no Brasil e no exterior- e representa um dos  grandes poetas brasileiros.s Mora em João Pessoa (PB).

terça-feira, outubro 01, 2019

Poetas cearenses participam de encontro em Portugal


Bruno Paulino, Renato Pessoa, Mailson Furtado e Dércio Braúna: autores em trânsitoFotos: Tarcísio Filho/WG Fotos/Helene Santos/Thiago Gadelha

Não somos só o sul e sudeste no Brasil, este olhar reduzido é o estereótipo de um Brasil colonizado  pela mídia, olhemos o nordeste no seu todo e na sua literatura.
Matéria do Diario do Nordeste Fortaleza- Ce.

Bruno Paulino, Dércio Braúna, Mailson Furtado e Renato Pessoa romperão fronteiras do fazer artístico em evento na Universidade de Évora, nos dias 9 e 10 de outubro


A literatura é feita a partir do diálogo com o mundo e a vida. Tal premissa, alimentada pelo escritor, psicólogo, mestre e doutorando Francisco Welligton Barbosa Júnior, foi mola propulsora para que pudesse idealizar uma ação que conectasse escritos. Diminuísse as fronteiras, oportunizasse o contato
“A ideia de realizar o evento surgiu ao fim do último ano, a partir da união entre dois fatos: quando paramos e refletimos sobre o fenômeno atual em que literaturas vêm sendo produzidas e se destacando por parte de jovens autores, que fazem, de seus escritos, exercícios de resistência; e, junto a isso, a necessidade de pensar e discutir a arte para além de conservadorismos e olhares unidirecionais sobre a temática”, explica.
Assim nascia o I Encontro Interdisciplinar de Estudos sobre Literatura: Novos Olhares entre o Ceará e o Alentejo. Realizada nos dias 9 e 10 de outubro em Évora, Portugal, a empreitada buscará, ao longo dos dois dias, investir em mesas e conferências que contemplem temáticas sobre literatura, patrimônio cultural, arte, e relações com psicologia, filosofia, política, entre outros assuntos. Também haverá lançamentos de obras por parte dos autores convidados.
Falando neles, quatro poetas cearenses aportarão do outro lado do Atlântico para suscitar renovadas perspectivas sobre as produções locais. Bruno Paulino, Dércio Braúna, Mailson Furtado (por meio de conferência online) e Renato Pessoa nos representarão em abrangência de atividades, ao mesmo tempo que alavancarão nossas letras a um novo patamar.

ALCANCE

Conforme Welligton, a justificativa para convidar os autores está diretamente ligada ao fato de serem artistas que, quer seja no sertão, quer seja nas periferias da cidade grande, vêm contribuindo para o fazer literário da nova geração cearense, com olhares questionadores e relevantes no cenário em que escolheram atuar. “Cada um a seu modo tratam de um tema que nos é valioso: nossas identidades nos tempos de hoje”.
A opinião é compartilhada com Cristina Santos, professora do Departamento de Linguística e Literatura da Universidade de Évora. Ela, que desenvolve trabalho de investigação em literatura contemporânea – em especial poesia portuguesa e brasileira –  situa a necessidade de volvermos análises e mergulhos entre as duas nações. 
“As fronteiras geográficas são cada vez mais fáceis de superar e, no mundo atual, perante uma tão grande crise de valores e a evasão de populismos de várias ordens, a literatura e, neste caso específico, a poesia de poetas oriundos de lugares mais distantes dos grandes centros políticos e econômicos, terá muito a ganhar em ser divulgada e nos mostrar outros aspectos sobre o mundo hoje”.
LEIA MAIS EM-   http://bit.ly/2nWfgUg

sábado, setembro 28, 2019

Lembrar o verso....- captura do Face

lembrar o verso....- captura do Face





É sempre bom lembrar o verso, a palavra que salta aos olhos e sentir como um afago cheiroso e animador; aqui estão duas mulheres- uma que compartilha -Luciana Hidalgo- já conhecida aqui no blog- e a  outra uma poeta que  inclusive já resenhamos - Adriane Garcia, mas as duas puxam o grande ausente Drummond sempre  com sua arma-flor, o verso- a nos catucar, como se diz na minha terra -Paraíba, de um jeito como uma sianinha cheirosa na gola de alguém que gostamos.

Aqui segue o post -abaixo



A poeta Adriane Garcia buscou em Drummond um poema que deveríamos ler diariamente no Brasil atual. Para desopilar o fígado, escamotear a náusea e buscar um pouquinho de beleza em meio a tanta feiura.
A flor e a náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
……………………………………………………………………………………….
Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 14,15 e 16

quinta-feira, agosto 15, 2019

CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA. Thiago de Mello


Thiago de Mello -fatoamazonico.com







CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA.

A Paulo Freire


Peço licença para algumas coisas,
Primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,
no alfabeto do sol pernambucano,
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão se abrindo
constelação de girassóis gerando
em círculos de amor que de repente
estalam como flor no chão da casa.

As vezes nem há casa: é só chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que se paga por ser homem,
mas um modo de amar - e de ajudar

o mundo a ser melhor. Peço licença
para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando
a boa nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos, 
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Santiago do Chile,
verão de 1964.
in Faz Escuro mas eu canto,T de Mello , Rio de Janeiro :C.Brasileira s/d


*Thiago de Mello

Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, Amazonas, em 30 de março de 1926. Além de tradutor e ensaísta, é um dos poetas mais influentes e respeitados do país, sendo reconhecido como um ícone da literatura regional. A luta política, o lirismo, as relações de família e os amores são facetas marcantes em sua obra.
Preso durante a ditadura militar (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Da amizade veio a decisão de traduzirem os poemas um do outro.
Mello morou na Argentina, no Chile, em Portugal, na França e na Alemanha. Voltou à sua cidade natal, onde vive até hoje, apenas após o final do regime militar no Brasil.
Publicou, entre outros livros, Acerto de ContasComo SouMelhores Poemas Amazonas – Pátria da Água. Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas.
Além dos livros, a Global disponibiliza diversos conteúdos exclusivos em seu blog: entrevistas, críticas literárias, resenhas, vídeos, notícias e muito mais.*http://bit.ly/2TFgBe6

segunda-feira, julho 01, 2019

Walfredo Luz um eletricista do verbo nos alagados poéticos das Alagoas


*Walfredo Luz -Foto arquivo do autor
"Senhores, peço licença
para agora recordar
um poeta e sua vida
e seu modo de lutar..."
Jorge de Lima - Senhores, Peço Licença



Quem escreve o faz por uma espécie de delírio, inicialmente mudo, mas alguns montam no outro delírio que é a palavra e suas conjuminações. O que fala, faz o mesmo. Por vezes, tanto um quanto o outro envergam estereótipos.
O poeta tenta salvar-se dos estereótipos.
Muitas vezes não sabe que é poeta, mas ocupa este espaço que é o delírio da mente e ajuda/bengala da palavra. A alucinação do poeta em suas variadas linguagens é a busca de salvar-se, salvar-se em querer dizer de um abismo o que é viver, estar e ser.
O poeta nem por isto é um trágico no sentido comum, ele pode ser um brincante e comediar seu discurso.
Ao entrar em contato com o poeta pelo Facebook, chama-me atenção seu grito de humanidade e protesto. Vou além e entro em contato com sua poesia.
Walfredo Luz é um poeta, dramaturgo, ator, mas sobretudo um caminhante da palavra.
Vou me ater a sua obra poética por ser meu roçado mais conhecido.
Das Alagoas, terra de grandes poetas e escritores, ele destampa-se para o mundo, não cedo, mas também não tarde, aos 48 anos. Daí o teatro e a poesia são seus escudos que lhe permitem desfocar e cenarizar o mundo, sua aldeia, enfim catar os sentidos de ser.
Sua obra tem cheiros da terra dos sargaços secos de Jorge de Lima, ou quiçá dos alambrados do cordel. Ergue-se um poeta e seu trombone.

Serpente comendo serpente
Homem sugando gente
Mesmo com dor de dente
Ninguém é alforriado



e vai..

Para gente acomodada
Palavrão é reclamar
Situação tão agourada
Silêncio é o termo fatal.


Aqui tenho algumas palavras trocadas com o autor que talvez amplie nosso encontro e seu perfil:



1 – Por que a poesia calha na sua vida de intelectual, como ela surge?

Geralmente, todos os meus escritos nascem da observação do mundo. Sempre escrevo sobre tudo que incomoda e fere o ser humano de morte. O caos interno/externo e a ebulição da mente e alma me fazem refletir e escrever sobre a vida, procurando incitar a reflexão para que possamos pensar e agir diante das adversidades, e a Arte tem esse poder.

2 – Por que a forma SONETO se repete em toda sua obra?
Comecei escrevendo livremente, não me preocupando em estruturar fisicamente os escritos. Por natureza, eu era muito prolixo, e escrever textos teatrais e poéticos me fez abrir a mente para a concisão diante da velocidade absurda com a qual as informações têm fluído no mundo real e virtual. Então, resolvi escrever meus poemas em soneto, mas sem a preocupação com a metrificação. É isso.

3 - O quê de brasil e nordeste aporta em sua obra?
Principalmente o preconceito generalizado, o descaso com a natureza e com a Arte em geral. Apesar de viver em Alagoas (Nordeste do Brasil), minhas obras são universais, pois os temas abordados em minhas obras referem-se ao ser humano e sua relação com o mundo, ou seja, são temas para reflexão em qualquer parte do planeta.

4 - Escrever é um ato solitário e perceptivo, quase alucinatório, acho, em que ocasiões emerge o poema?
Diante do caos generalizado. Os conflitos internos e externos são o gatilho propulsor para uma escrita reflexiva, para que pensemos em como ser e estar nas missões necessárias para que possamos nos tornar melhores. A trilogia poética Sonetos de Sururu (303 poemas) foi em escrita em, aproximadamente, 2 meses e meio. Considero minha escrita quase alucinatória! (risos)

5 - O teatro e a poesia se dão as mãos. Como?
Totalmente, pois quando escrevo sempre imagino cenas, cenários, diálogos. Costumo pensar o texto teatral como pura poesia, assim como o poema como cenas teatrais, tanto é que penso em escrever teatrais para cada volume da trilogia poética.

4-A leitura de autores outros nos lambuza, dá-nos um campo de extensão de pensar poemando. Quais autores se misturaram em tua trajetória e quais você destaca?
Brasileiros: Graciliano Ramos, Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Aluisio de Azevedo, Jorge Amado, Chico Buarque.
Estrangeiros: Russos: Gogol, Dostoiévski, Tolstói, Tchekov, Allen Guinsberg, William Burroughs, Jack Kerouac, Antonin Artaud, Bertolt Brecht, Ionesco, entre outros.


5- E a difusão pelas escolas e outros locais - como aparece essa ideia e como foi recebida?
Nós sabemos que o hábito de leitura é muito pouco em nosso país, imaginem então quando falamos em leitura de textos teatrais e poéticos. Diante desse quadro, resolvi encampar a missão de difundir textos (teatro e poesia) nas escolas públicas e a receptividade tem sido boa. O maior presente que recebemos, enquanto autor presente nas escolas, é o retorno por parte de crianças, jovens e adultos que nos abordam para trocar ideias. Em muitos momentos, eles e elas falam que é ótimo receber autores e autoras com quem eles e elas possam conhecer seus escritos e trocar ideias sobre os mesmos.

Só resta comer seus sonhos apalavrados em sua obra e enlamear-nos na sua lírica de cheiro de terra, de sol e palavra solta.

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*BIOGRAFIA

Walfredo Luz nasceu em 1963, no bairro de Fernão Velho, Cidade de Maceió-Alagoas. Graduado em Letras, ator, escritor, judoca. Em 2011, aos 48 anos, Walfredo apaixona-se pelas artes, o teatro especificamente, e não parou mais. Em 2012, ele estreia nos palcos como ator. Em 2016, faz parte da equipe de produção do Festival de Teatro de Alagoas. Em 2017, estreia como ator no cinema com o curta-metragem “Os Desejos de Miriam”. Em maio de 2017, Walfredo viaja pela dramaturgia com a publicação da obra “Teatro de Walfredo Luz – Fulniô e De cachimbo Caído”. Em 2018, estreia na poesia com a publicação da trilogia poética Sonetos de Sururu composta pelas obras Holocausto Mundaú, Queixume e Sóis de Brancas Trevas. Em 2018, Walfredo Luz também conclui o texto teatral Fuzis de Flores (não publicado). Em 2019, o autor conclui a obra poética Massunim Psicodélico (não publicado). Em 2017, 2018 e 2019, o autor participou de vários eventos literários em escolas estaduais em Alagoas, saraus poéticos, mesa redonda “Onde Mais Houver Poesia” promovida pela Estante Virtual/RevistaPhilos/Editora Kazuá durante a FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty. Em 2017, participou também de eventos literários durante Bienal Internacional do Livro em Maceió. Walfredo Luz leva sua arte às escolas para difundir e incentivar a leitura e a escrita de obras literárias.

Roda Viva | José Saramago | 13/10/2003 para não esquecermos

um pensador, um alucinado,como todo grande escritor e que questiona o próprio instrumento que se vale para ser JOSÉ SARAMAGO.Um ensaista da ...