domingo, outubro 09, 2011

QUATRO POEMAS DO POETA GONÇALO M. TAVARES

PAULOVAS

































REDUPLICADO :CASA DOS POETAS
Hoje é o dia de falarmos um pouco de Gonçalo M. Tavares, talvez o poeta sub-40 que melhor escreve em Portugal neste momento, com um estilo muito próprio e livros bastante diferentes entre si, todos funcionando como verdadeiros conceitos. Pegámos no Livro da Dança, em "1" e por fim "Investigações Novalis". Para quem quiser ler um tratamento mais científico deste génio da literatura portuguesa, pode seguir para este documento.


86.
interditar a memória.
Tornar a inteligência bela é voltar à não inteligência.
Só é belo o que não é inteligente; porque o inteligente é o não imediato: um passo atrás ou à frente, enquanto o belo é o instante, a superfície tão fina que frente igual a COSTAS, o início é o mesmo que o FIM.
interditar a memória.
a memória é ocupação do espaço.
a memória é o não imediato,
a memória é o inteligente.
O Corpo inteligente é inteligente mas não é corpo porque corpo é estar presente, agora, por completo, e o inteligente, repito o inteligente é o não-imediato, um passo atrás ou à Frente.
a dança não tem Memória.
A criatividade não tem Memória.
O Corpo começa agora no momento que acaba.
O Corpo começa no mesmo sítio que acaba.
O corpo é 1 sítio e 1 tempo e depois 1 outro sítio e 1 outro tempo que não recordam o sítio e o tempo anteriores.
CORPO AMNÉSICO.
Esqueceu porquê aqui e agora.
Aqui e agora e antes nada.
Aqui e agora e depois nada.
CORPO AMNÉSICO e sem projectos.
Cortar-lhe a cadeira dos velhos e o monte donde se vê o FUTURO dos NOVOS.
Um CORPO sem cadeira (não há cansaço porque antes não existiu) e UM CORPO sem VISÃO (o FUTURO é 1 espaço onde ainda não se chegou).
Sem visão não há nenhum lado onde se chegar, e sem cadeira não há sítio onde descansar, portanto só resta ao corpo ser todo aqui e agora e só resta ao corpo dançar.
(Corpo a quem cortaram a cadeira e os olhos).

14.
A história da dança não é, não pode ser, o Percurso dos Movimentos traçado no chão.
É, tem de ser, o Percurso dos Movimentos Traçado no ar.
Acreditar que os Pássaros são resto de COREOGRAFIAS. Imagens do corpo que ficaram atrás, suspensas.
(As nuvens ainda, tudo o que é alto, o céu.)
Os pássaros são restos de COREOGRAFIAS.



in o Livro da Dança
(Assírio & Alvim)

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