terça-feira, fevereiro 05, 2013

Wislawa Szymborska A ALEGRIA DA ESCRITA Para onde corre essa corça escrita pelo bosque escrito? Vai beber da água escrita. que lhe copia o focinho como papel-carbono? Por que ergue a cabeça, será que ouve algo? Apoiada sobre as quatro patas emprestadas da verdade sob meus dedos apura o ouvido. Silêncio – também essa palavra ressoa pelo papel e afasta os ramos que a palavra “bosque” originou. Na folha branca se aprontam para o salto as letras que podem se alojar mal as frases acossantes, perante as quais não haverá saída. Numa gota de tinta há um bom estoque de caçadores de olho semicerrado prontos a correr pena abaixo, rodear a corça, preparar o tiro. Esquecem-se de que isso não é a vida. Outras leis, preto no branco aqui vigoram. Um pestanejar vai durar quanto eu quiser, e se deixar dividir em pequenas eternidades cheias de balas suspensas no voo Para sempre se eu assim dispuser nada aqui acontece Sem meu querer nem uma folha cai nem um caniço se curva sob o ponto final de um casco. Existe então um mundo assim sobre o qual exerço um destino independente? Um tempo que enlaço com correntes de signos? Uma existência perene por meu comando? A alegria da escrita. O poder de preservar A vingança da mão mortal. Postado em Literatura, por Roberto Kenard Assuntos: Companhia da Letras, Prêmio Nobel, Wislawa Szymborska

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