sábado, janeiro 07, 2012

JOMAR M SOUTO. PB

Por A.Miranda
 

JOMAR MORAIS SOUTO 
 
 
Nasceu em Santa Luzia do Sabugi, Paraíba, em 1935. Em 1961 ganha o Prêmio Augusto dos Anjos com os poemas de Pedra de Espera. Em 1962 escreve Itinerário Lírico da Cidade de João Pessoa, que já alcançou quatro edições. Em 1980 é publicado pela editora da Universidade Federal da Paraíba seu livro Fazenda de Murmúrios (poemas). Em 1985 ganha um prêmio nacional de poesia no concurso Quarto Centenário da Paraíba com o "Canto da Capitania Real de Nossa Senhora das Neves". Data, igualmente desse ano, o aparecimento em São Paulo do livro Poetas Contemporâneos "antologiados" por Henrique L. Alves, uma publicação de Roswitha Kempf Editores, volume no qual figura ao lado de eminentes poetas brasileiros, como João Cabral de Melo Neto, Carlos Nejar, Thiago de Melo Neto, Mauro Mota e outros. Em 1986, a Universidade de Brasília edita o livro País de São Saruê, com todo o roteiro cinematográfico de Vladimir Carvalho e os versos de Jomar Morais Souto, considerações da crítica que vão desde Jean Claude Bernadet a Ariano Suassuna, José Nêumanne Pinto, Ruy Guerra, Glauber Rocha, Silvie Pierre, esta do Cahiers du Cinéma, de Paris, Anne Head, do Observer de Londres, Leonard Greenwood, do Los Angeles Times. Em 1994 alguns poemas de Jomar aparecem na antologia Nordestinos, editada pela Editorial Fragmentos de Lisboa. Recentemente lançou o livro AGRARIANAS e outros poemas escolhidos, pela Ars Poetica.

Fonte:  www.pravoce.tv/jegppjom.htm
 
 
ELEGIA PARA OS SAPATOS AO SOL
 
                            I
 
Molhados. Estão molhados.
Deixo-os, pois, secar ao sol,
São sapatos fazem jus
a um canto dentro da luz
derramada pelo sol.
 
Eles são sapatos, hoje.
Mas, ontem, foram bois mansos.
Tiveram amplos currais
e pastagens e arrebol.
Antes, levavam os carros.
Levam, hoje, os pés dos homens
da sombra triste para o sol.
 
Eles são sapatos, hoje.
Mas, ontem, foram bois mansos.
E escutaram os tristes cantos
dos vaqueiros pelos campos
cantando de sol a sol
 
 
                            II
 
Só  depois dos estilhaços
e dos seixos dos caminhos,
viram-se em frente da morte,
no matadouro, sozinhos
 
E o sangue que antes jorrava
só na ponta do ferrão,
desceu ao ventre da terra
em rubras poças, no chão.
 
Tiveram o couro suspenso
na noite de algum curtume,
entre as carícias do vento
e os beijos de um vaga-lume.
(Eram, antes, bois de carro
- um par autêntico e manso.
Mereciam, pois, na morte,
um momento de descanso).
 
                            III
 
Eles são sapatos, hoje.
Mas, ontem, foram bois mansos.
Muito antes do curtume,
do operário e do formol,
e dos rastros nas areias
caminhos de algum farol.
 
Por isso eu abro a janela
e deixo-os secar ao sol.
 
- Um minuto de silêncio!
Não ria nem chore, pois
esses, hoje, assim, sapatos,
um dia já foram bois.
Perderam somente o sexo.
Continuam sendo dois.
 
 
FESTA NORDESTINA
 
As mesas estavam postas
no meio da rua,
e as brasas dispostas
na pedra nua.
 
Eram as camponesas,
na tarde sua,
límpidas tristezas
no meio da rua.
 
E eu me lembro de que havia
ainda
um fogareiro aceso.
Sobre o trempe u’a mão tremia,
assando milho, com medo.
As mesas estavam postas
no meio da rua.
 
 
SONETO PARA UMA NOIVA
 
De casca de laranja os amarelos
tingindo o seu vestido e escondendo-a
no laranjal distante. Paralelos
os passos vão nos sumos. Uma amêndoa
não, duas amêndoas, sim, seus olhos belos
movendo-se nos longes, ou movendo-os
no verso as minhas mãos que apenas tê-los
quisessem por amparo, incandescendo-os
no frio de uma tarde, quando a chuva
nem me deixasse vê-la inalcançada
(quase perdido o vulto na paisagem
real) sem sombrear mais minha dúvida
de amêndoas, de olhos, nem de nada,
nem mesmo de outro fruto na folhagem. 
 
 
SONETO SÓ PARA A SEGUNDA PESSOA
 
A de ti de quem não sabe a dor do vento
ninando a tarde verde no aqueduto.
A ti que mais amar na noite intento,
tangendo este silêncio em ti escuto
insto que em tí, por nós, no mesmo acento,
liberto e rendo, só por ter-te em tudo
de onde tirar, na flor em que te invento,
essa outra flor do amor que te disputo.
 
Não só por flutuares, ou que mais
longe um do outro, não nos fiquem bens.
Mas é porque sabendo que te vais,
 
Eu sei, também, do verde em que te vens
ungida e alegre para nunca mais
arderes, só, no adeus em que me tens. 
 
 
 
Página publicada em junho de 2010
 

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