sexta-feira, agosto 28, 2009
TEMPO DE BUSCA Aníbal Beça
Procuro por uma porta
que me abra um tempo mais sereno.
Pressinto que ela está por aí, talvez próxima,
à toa nos meus caminhos vagos.
Entre uma passada e outra
me apresso em tocá-la,
e ela na sua calma surda de madeira
se afasta para voltar ao estado de árvore.
Sinto que também ela procura por alguma coisa
com algo de vento mastigando capim.
Vez por outra escuto um mugido
rangendo entradas e saídas
trompa pastoral se fechando em tardes.
Meus amigos me dizem que possuem sua chave,
que são íntimos no entrar e sair.
— seja pela parte da frente seja pela parte de trás —
sabem até do seu humor
pela leitura enrugada dos múltiplos nós,
mas não podem emprestá-la.
Temem que eu não volte para devolvê-la.
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