terça-feira, janeiro 05, 2010

POETAS DA PARAÍBA







ANGÉLICA LÚCIO





Nasceu em Patos, no Sertão paraibano, em 22 de abril de 1974, e está radicada em João Pessoa desde a década de 90. Além de poeta, é jornalista profissional. Recebeu menção honrosa no concurso de Poesia do Sesc João Pessoa, participou da Antologia Contemporânea da Poesia Paraibana, editada pelo O Sebo Cultural em 1995, obteve o segundo lugar no Festival Amapaense de Poesia, em 1998, e publicou, junto com os poetas André Ricardo Aguiar, Fausto Costa e Karina Grace e brochura “Quadrifólio’. Atualmente, organiza a publicação de seu primeiro livro de poemas.



“Angélica Lúcio trabalha com rigor e economia nas palavras. Há em seus poemas um tenso equilíbrio entre o elemento mineral, que serve de referência à maioria das imagens, e a inquietude de uma alma que oscila entre os apelos da carne e a salvação.”



Francisco José Gomes Correia (Chico Viana), Universidade Federal da Paraíba



Pétrea



Por vezes,

me sinto pedra

pele salgada

sob a língua vermelha

em esgares de náufrago

estátua translúcida

sumindo em saliva:

a eterna mulher de Lot.





Pérola



Minha dor é molusco

e se faz de ostra:

sempre me enclausura.

Brinca com hipocampos,

faz cócegas em Netuno

e me quer sua filha.

Talvez uma pérola.





Sacrossanta



Se sois santo

havereis

de me querer

todos os dias

- corpo e hóstia –

Aos teu pés

Imolando-me no altar



se santo não sois

por que havereis

de me querer

pura e pedra

e também sacrossanta

por que não esfinge

- pronta a te devorar?





Antífonas



Não sou fraca por obra de Deus

em mim, os seios pedem abrigo

as dobras do corpo, flagelação

por isso, valho-me de rezas,

terços e xaropes

e me desdobro em antífonas:

antes o gozo do que a morte

antes o cancro do que a salvação.





O gato



O olho do gato

tem outro gato

no espelho



tem outro pêlo

no fio

tem outra lida

no sê-lo



tem outra vida

no cio

tem outra luta

no relho

o olho do gato

não sabe da vida

um fio

não sabe da noite

um pêlo.





Tessituras



Se me esqueço

em novelo de dedos

não me fio em roca e fuso

de tessituras alheias.

Ainda que fique sem pão

colher de pau e jasmim

tapete de tez vermelha

ventilador e dentifrício,

Ainda que perca o elo,

não me fio

e me fecho em minotauro.





Filhos



Meu pai

pensava filhos

como se quisesse açude

pomar curral e galinhas

fazia filhos

como se pensasse

em sítio:

de sua carne.







Extraído de ANTOLOGIA SONORA – Poesia Paraibana Contemporânea. João Pessoa: Edições O Sebo Cultural, 2009. Produção executiva de Heriberto Coelho de Almeida. Contendo 9 CD com gravações de poemas nas vozes dos autores, e 31 encartes em caixa de madeira. ISBN 978-278-995423

Página publicada em novembro de 2009, a partir do material cedido pelo Editor.

retirado para este BLOG http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/angelica_lucio.html

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