quinta-feira, novembro 19, 2009

CARLOS PENA FILHO


Retirado de :http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/carlos_pena_filho.html
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CARLOS PENA FILHO
(1930-1960
Ao meu poeta sempre aberto em minha estante do :"são trinta copos de choop são trinta homens sentados..............PAULO VASCONCELOS-GRIFO MEU-


Nasceu e faleceu no Recife em 1930. Publicou O Tempo da Busca, em 1952; c Memórias do Boi Serapião, com ilustrações de Aloísio Magalhães, edição Gráfico Amador, Recife, 1956; A Vertigem Liicida, edição da Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, 1958 e Livro Geral, edição da Livraria São José, 1959.



Maysa, a musa da bossa nova, gravou a canção “A mesma rosa amarela”, de sua autoria em parceria com o grande Capiba.



Faleceu vítima de um terrível acidente automobilístico.





PARA FAZER UM SONETO

Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.

Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local,
não use mais que o sol de sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.

Se não, procure a cinza e essa vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse.
Antes, deixe levá-lo a correnteza.

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.



(De Livro Geral)*





A CHARLES BAUDELAIRE

Carlos também
embora sem
flores nem aves
vinho nem naves,

eu te remeto
este soneto
para saberes,
se o acaso o leres,

que existe alguém
no mundo, cem
anos após

que não vaiou
e nem magoou
teu albatroz.

(De Livro Geral)*


SONETO

O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
Às estrelas, prefiro o que se esconde
Nos crepúsculos graves dos conventos.

Humildemente envolvo-me na sombra
que veste, à noite, os cegos monumentos
isolados nas praças esquecidas
e vazios de luz e movimento.

Não sei se entendes: em teus olhos nasce
a noite côncava e profunda, enquanto
clara manhã revive em tua face.

Daí amar teus olhos mais que o corpo
com esse escuro e amargo desespero
com que haverei de amar depois de morto.


(De Livro Geral)*
Imagem P Vasconcelos

A SOLIDÃO E A SUA PORTA

A Francisco Brennand

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal se resta a vida

com tudo que é insolvente e provisóriio
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o contraditório.

(De Livro Geral, 1969)*


*No julgamento de Magaly Trindade Gonçalves, Zélia Thomaz de Aquino e Zina Bellodi Silva, que organizaram a extraordinária “Antologia das antologias: 101 poetas brasileiros “revisitados”” Prefácio de Alfredo Bosi (São Paulo: Musa Editora, 1995. ISBN 85-85653-05-1, estes são os poemas do autor que mais foram incluídos em antologias anteriores, com o cuidado de cotejo dos textos para uma versão definitiva. Recomendamos a obra, hoje acessível em bibliotecas.





SONETO OCO

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.


Imagem P Vasconcelos


DESMANTELO AZUL



Então pintei de azul os meus sapatos

por não poder de azul pintar as ruas

depois vesti meus gestos insensatos

e colori as minhas mãos e as tuas



Para extinguir de nós o azul ausente

e aprisionar o azul nas coisas gratas

Enfim, nós derramamos simplesmente

azul sobre os vestidos e as gravatas



E afogados em nós nem nos lembramos

que no excesso que havia em nosso espaço

pudesse haver de azul também cansaço



E perdidos no azul nos contemplamos

e vimos que entre nós nascia um sul

vertiginosamente azul: azul.

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