quinta-feira, novembro 12, 2009

O discurso lírico de José Telles




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JOSÉ TELLES, em "O solo das chuvas", firma-se como uma das vozes mais destacadas no lirismo contemporâneo
Foto: MIGUEL PORTELA

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A projeção dos sentimentos, das atitudes individuais, ou seja, o eu que se inscreve como motivo maior, tudo isso tem caracterizado a poesia de José Telles. Seu discurso se volta, predominantemente, para o mundo interior, de onde se evolam imagens de um passado distante, fragmentos de paisagens, sombras de seres e coisas, para que, enfim, tudo se converta num exercício do encantatório. Percorrer tal universo é o motivo central dessa edição

A escritura de José Telles é, em sua essência, sobretudo lírica. Sua cosmovisão, portando, advém filtrada pelo que, dependendo da relação que estabeleça com o estar-no-mundo, pode anunciar-se como a expressão de um desencanto em relação à engrenagem social ou mergulhar mais em suas próprias entranhas, mostrando-se, desse modo, introspectiva e de um acentuado individualismo.

O solo das chuvas
Seu mais recente livro, O solo das chuvas, vencedor do Prêmio Osmundo Pontes/2007, não só confirma tal tendência, mas lhe aponta, por outro lado, mais uma faceta: a de, livro a livro, concentrar-se, predominantemente, num determinado interesse temático; e, com tal procedimento, encontrar - o que não deixa de ser inusitado - caminhos novos.

A obra aberta
A obra de arte literária comporta abertura; nesse sentido, visaremos a uma exegese desse livro, na busca de identificar-lhe os processos estilísticos e os caminhos temáticos, visando, com isso, descrever-lhe a composição, concentrando-nos, especificamente, nos processos metalinguísticos.

O poema-título imprime-se, antes de tudo, como uma epígrafe do próprio livro, uma vez que , de certa forma, tanto lhe antecipa as preocupações temáticas, como, por outro lado, também diz respeito a determinados procedimentos estilísticos por que há de orientar-se a expressão literária do Autor, constituindo caminho para a sua poética: (Texto I).Trata-se, portanto, de um metapoema, uma vez que reflete acerca da relação que o eu lírico mantém com o fazer poético. Decompostas as "têmperas", isto é, o ímpeto para a sua caça às palavras, entrega-se, passivamente, à insônia. No entanto, surge "Um solo de chuva", com a força de seu sumo inaugural: a poesia apresenta-se ao poeta, rompendo a crosta que o separava do encantamento; por isso, tudo o que é efêmero se conserva, magicamente, em sua escritura, sendo, assim, "o sal" de seu "delírio". O que a vida lhe tira, com a gravidade de sua ferrugem, recupera poeticamente - e isto o pacifica. O verso "Um solo de chuva", relacionado à natureza geral das composições, revela a natureza plural do título "O solo das chuvas": se há uma relação intrínseca entre o poeta e o poetar, o "solo" é o livro; e as "chuvas", os poemas - suor e lavoura, colheita do embate do eu lírico com o mundo.

CARLOS AUGUSTO VIANA

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