quinta-feira, outubro 29, 2009
Luisa Ribeiro
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_europa.asp?ID=511
imagem Paulo Vasconcelos
Chorei-te os traços medievais engoli
veneno isolei-me numa arquelogia
de giz e não desenhei mais
um grego perfil
para beijar
não passas do papel
para a ogiva dos meus braços e morro
antes que me encerrem as palavras
numa fábrica de significados
e uma língua de água
me passe no rosto
alucinado
Te lloro los trazos medievales trago
veneno me aíslo en una arqueologia
de tiza y no dibujo más
quew un grego perfil
para bejar
no pasas del papel
a la ojiva de mis brazos y muero
antes de que me encierren las palabras
en una fábrica de signos
y una lengua de agua
me pase perdida por el rostro
alucinado
.
.
Nao me suicido ainda porque te quero
ver vestido para o verão quero
medir o músculo escuro que te sobra
à camisa e passar a língua
na linha cortante dos teus dentes
brancos. Eu quero
os teus dentes brancos
para mim. Por isso deixa-me
esperar este calor onde aparecerás
vestido ou despido
de linho brando
No me suicido todavía porque te quiero
ver vestido para el verano quiero
medir el músculo oscuro que te sobra
en la camisa y pasar la lengua
por la línea cortante de tus dientes
blancos. Yo quiero
tus dientes blancos
para mí. Por eso dèjame
esperar este calor donde aparecerás
vestido o desnudo
de lino blando
.
Não agites mais calor
ele respinga sangue perfumado
e os abetos murcham
não agites mais as rosas estão queimadas
junto ao soluço dos gatos e o sangue
espalha um alvoroço de galos
No agites más calor
èl respinga sangre perfumada
y los abetos se marchitan
no agites más las rosas están quemadas
junto al sollozo de los gatos y la sangre
esparce un alboroto de gallos
.
.
Nasci no segundo andar duma casa numa rua da cidade de Angra, onde não havia o perfume das laranjeiras, nem o cheiro a relva acabada de lascar. Uma casa com janelas viradas para outras janelas de outras casas iguais; casa de muitas tias, com Pai e Mãe e onde a única sombra me era dada pela magia dum irmão mais velho – irmão que me enchia os olhos de livros e medos.
E foi neste meu pulsar de criança que se espalhou a luz e que, num segredo nocturno, fui procurando as curvas das palavras que melhor desenhariam um fecundo percurso de lágrimas.
Aprendi o monólogo. E, sem nunca deixar a cidade onde nasci, limitei-me a passar por estes enigmáticos canais – veias da vida – exibindo sempre o desejo de transformar beliscões em carícias e de, ao fazê-lo, ir dando ao papel o verdadeiro encontro com a existência.
Não fiz mais do que me agarrar à lua, para espalhar o sangue e receber as pedras e brincar ao fogo e acumular as raízes e alcançar a infância dos filhos.
Sou aquilo que o tempo exige que eu registe: quando encontro a claridade procuro a sombra para descobrir o desassossego e quando encontro o desassossego, procuro a claridade para perseguir a sombra.
E neste vento, às vezes tempestade, passei quatro décadas sustentando a ilha num eterno passeio entre a terra que me g
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