quinta-feira, outubro 29, 2009

Carlos Vaz Portugal



imagem Paulo Vasconcelos


O PRINCIPIO DA INCERTEZA, Heisenberg


alimentam-se dois pintores da tonalidade fraca de uma luz
sobre a imagem de dois frutos
o primeiro, mais a direita, desenha pêssegos
o segundo, mais afastado, limões

por não se entenderem, acendem o espaço
e vêem duas laranjas

desiludidos pelo engodo, descascam e comem
gomo a gomo o que afinal não pintaram

ARTE E CARNE NO DASEIN DA PALAVRA, Heideger


que de vermelho tem a palavra 'vermelho', tão somente a carne da palavra que dá a cor sugerida à mente
mas na verdade a palavra é daltónica e a razão que a acolhe fantasia no lume das ideias

se vermelho é sexo, sangue ou flor e se a palavra dá a tonalidade ao objecto
então seremos eternos pintores de vocábulos e pensamentos,
grafites de um mundo exterior

Galileu Galilei, O PESO

todos eram pejados de asas para experimentarem a leveza
mas criou-se o peso e os seres caíram eternamente sobre coisas
como aves num prato de cozinha

Biografia:

Carlos Vaz [Carlos Rodrigo da Silva Vaz] [n. Caminha,Portugal, a 21 de Junho de 1970] é um autor contemporâneo de Língua Portuguesa. Formou-se em Filosofia e Humanidades pela Universidade Católica de Braga e complementou com o mestrado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea sobre Maria Gabriela Llansol. Carlos Vaz é o autor da conhecida trilogia da experiência: A Casa de Al'isse, Seres de Rã e o romance premiado pela crítica Capricho 43. Para além destas obras, é também o autor do livro de poesia Laivo e do ensaio premiado Diários de um Real-Não-Existente, entre outros. Recebeu o Prémio Vergílio Ferreira [Gouveia] em 2005 pelo ensaio Diários de um Real-Não Existente e o Prémio Literário António Paulouro [Fundão] em 2006 pela obra Capricho 43. Apesar do autor se avaliar como um convicto llansoliano [Maria Gabriela Llansol] numa entrevista dada, a três de Agosto de 2005, à Agência Lusa, a originalidade do seu estilo literário vai mais além e é considerada por alguns críticos [ver Referências] como uma escrita onde as dicotomias encontradas, medo/coragem, sonho/razão, humanidade/monstruosidade, memória/esquecimento, criança/homem, crítica/sonho, branco/cores, entre outras, geram a morfose desejada do leitor numa entrega do seu corpo ao acolher a própria viagem do texto. Na verdade, as obras deste autor entrecruzam-se com textos ou ensaios científicos [encarnados pela figura de Isaac], com a pintura [Goya, Paula Rego, Helena Almeida, etc.], a literatura infanto-juvenil, etc. É essencialmente uma literatura de fascínio e de encanto que conquista o leitor mais exigente, logo desde a primeira página. Na verdade, a sua escrita persiste essencialmente na inovação estética e nas possibilidades da arte moderna, reclamando do leitor uma espécie de despojamento compreensivo, uma aceitação sem preconceitos. De facto, na observação da obra é crucial apelarmos ao papel do leitor, uma vez que não pode ser ignorado no processo de codificação de um texto literário, tendo em conta que o diálogo entre o intérprete e o texto é infindável. Ao invés do pacto de leitura, que habitualmente estamos dispostos a acolher, a leitura manifesta-se como uma reclamação e apelo a uma fusão de horizontes, já que a obra não se funda numa relação simples e semelhante entre aquele que escreve e aquele que lê, mas sobretudo aquele que escreve e lê ao mesmo tempo, através da união de um único corpo que é o texto.

carlosvaz@carlosvaz.pt
apud http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_europa.asp?ID=5543

2 comentários:

Fixorio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fixorio disse...

Não conhecia estes poemas de Carlos Vaz, um autor ainda pouco conhecido do mundo Lusófono, éverdade, mas já com uma obra fabulosa. Aconselho sobretudo a "Trilogia da Experiência", principalmente "Capricho 43", uma obra fabulosa. No wikiquote da wikipédia do autor quase todos os aforismos são retirados desta última obra. Um autor que aconselho apenas a quem é exigente na sua leitura. Os romances de Carlos Vaz são para quem sabe ler na prosa a poesia non sense da Restante Vida que nos falta.... aconselho vivamente. Recentemente conheci o autor durante a apresentação da sua última obra "Estrangulador de Bonecos de Neve", estou a ler... fabuloso acreditem... Parabéns pelo blog... vou voltar
Carlos Gil

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